85% dos paulistanos acreditam que a violência contra a mulher cresceu no último ano

A quinta edição da pesquisa “Viver em São Paulo: Mulher”, lançada nesta quinta-feira (3) pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o IPEC – Inteligência em Pesquisa e Consultoria e o Sesc, mostra que 85% das paulistanas e paulistanos acreditam que a violência doméstica e familiar contra as mulheres aumentou no último ano. Apenas 1% dos entrevistados acham que as agressões diminuíram muito ou pouco na cidade.

Confira a apresentação da pesquisa.

Confira a pesquisa completa.

Segundo o levantamento, mais de um terço das pessoas declarou ter presenciado ou ouvido falar de casos de violência doméstica contra a mulher perto do local onde moram. Cerca de 20% dos entrevistados presenciou ou soube de casos ocorridos próximos ao ambiente de trabalho e 12%, no próprio domicílio.

No recorte por faixa etária, um quarto dos jovens de até 24 anos de idade declararam que já vivenciaram casos de violência que envolvem parentes próximas. O percentual de respostas sobre violência envolvendo parentes próximas aumenta quanto menor a renda familiar do entrevistado.

De modo geral, são dados que reforçam a conclusão de estudo feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, segundo o qual a violência doméstica aumentou durante a pandemia. O trabalho apontou que, a cada minuto, oito mulheres sofrem algum tipo de agressão física no país.

Na capital paulista, a percepção das pessoas aponta para a mesma direção. “Quase a totalidade da população paulistana entende que tem aumentado a violência contra a mulher”, diz Patrícia Pavanelli, diretora do Ipec. “E o local que gera mais insegurança, onde elas entendem que correm o maior risco, é no transporte público”. Segundo a pesquisa, 52% das entrevistadas disseram que é nesses deslocamentos, principalmente nos ônibus, que se sentem mais vulneráveis. O risco de andar pelas ruas da cidade é citado por quase um terço das mulheres de até 34 anos, principalmente as das classes D e E.

O aumento das penas para quem comete este tipo de crime segue como prioridade máxima no combate à violência contra as mulheres, opção apontada por 53% dos entrevistados e entrevistadas. Em 2022, é maior a proporção de mulheres que sugerem capacitação adequada para que os funcionários dos canais de denúncia possam melhor acolher aquelas que procuram por ajuda.

Divisão de tarefas domésticas

A pesquisa “Viver em SP: Mulher” mostra ainda a percepção de homens e mulheres em relação à divisão dos trabalhos domésticos. Depois de dois anos de pandemia – e com a retomada do trabalho presencial –, há uma queda significativa no número de pessoas que dizem que as tarefas de casa são divididas igualmente entre eles e elas. Em 2021, 47% dos entrevistados e entrevistadas percebiam uma divisão mais igualitária; hoje esse número é de 37%.

Na edição de 2022, também avançou o entendimento de que são as mulheres que realizam a maior parte dos afazeres domésticos, especialmente entre as próprias mulheres, com um crescimento de 10 pontos percentuais em relação ao último levantamento. Em 2021, 31% achavam que essas tarefas são responsabilidade de homens e mulheres igualmente, mas que elas executavam a grande parte. Em 2022, esse número subiu para 41%. “As mulheres têm mais anos de estudo, trabalham, são a maioria da população, mas têm salários menores e estão em menor quantidade nos cargos mais elevados”, diz a diretora do Ipec. “Ainda assim, continuam sobrecarregadas dentro de casa. E quando a gente observa o recorte por cor, percebe que a relação é ainda mais desigual para as mulheres negras”.

Em outras palavras

Realizado no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, o evento de lançamento da pesquisa contou também com um debate entre a vereadora Erika Hilton, primeira mulher negra e transvestigênere a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo; Simone Luciano, jornalista e consultora da organização Mais Diversidade; e Jéssica Paraguassu, diretora e fundadora do Mulheres no Comando. A conversa foi moderada pela jornalista e escritora Jéssica Moreira, uma das fundadoras da organização Nós, mulheres da Periferia.

Na pauta, temas como saúde mental, trabalho e renda, segurança, assédio e assistência social, entre outros, foram abordados pelas participantes, confira na íntegra.

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