“Comunidade se mobiliza para consolidar espaço cultural” – Portal Aprendiz

Por Talita Mochiute, do Aprendiz


O prédio número 577 da rua Cândido José Xavier, onde funcionava o sacolão municipal do Parque Santo Antônio, transformou-se no Sacolão das Artes. Em agosto de 2007, moradores, associações de bairro e grupos artísticos da zona sul da cidade de São Paulo (SP) quebraram o cadeado do edifício, fechado desde 2006, após cancelamento da concessão. Era o início da mobilização para tornar o espaço um centro destinado a atividades socioculturais e esportivas.

Durante dois anos, a população pôde participar de diversas oficinas e assistir espetáculos teatrais no local, que tem mais de 200 metros quadrados. “Era preciso dar vida para o espaço”, lembra o ator Ademir de Almeida, da Brava Companhia, um dos grupos que ocupam o Sacolão. Mas, em maio deste ano, o prédio foi novamente interditado pela Subprefeitura de M’Boi Mirim. O episódio reacendeu os debates sobre o destino apropriado para o equipamento público.

De acordo com os grupos atuantes no espaço, a Subprefeitura interditou o prédio, alegando: “falta de segurança” e “ilegalidade na ação dos grupos”. Para manifestar o repúdio a essa ação e criticar a falta de diálogo com a gestão pública, o grupo circulou um comunicado: “É inaceitável que projetos prontos sejam atirados em nossas cabeças, motivo pelo qual buscaremos, de todas as formas, o direito de constituirmos um Polo Sociocultural diferenciado, com uma gestão coletiva e popular. Um espaço para produção de conhecimento e não um supermercado de eventos culturais”, colocava o comunicado assinado por mais de 10 coletivos atuantes no Sacolão.

Em julho, o grupo conquistou a reabertura do espaço e, principalmente, o reconhecimento da importância do projeto para a comunidade. “O prédio virou um espaço cultural. E isso é irreversível. Agora, queremos fazer esse equipamento funcionar de modo perene e dentro da lei”, explica o novo subprefeito de M’Boi Mirim, José Roberto Fortner.

Para regularizar as ações dos grupos e definir os rumos do Sacolão das Artes, a Subprefeitura propôs a constituição de um conselho gestor. A ideia é criar um projeto para o local que não mude a cada novo subprefeito.

“Estamos construindo um modelo de gestão coletiva dentro de um espaço público. Também queremos criar um regimento interno e um plano político-pedagógico para o espaço”, afirma a produtora da Brava Companhia, Kátia Alves.

Reforma do Prédio

Além de um modelo de gestão, o coletivo e a Subprefeitura estão realizando reuniões para tratar da reforma do prédio. Na última quinta-feira (2/7), o grupo do Sacolão, acompanhado de arquitetos, se encontrou com o subprefeito para apresentar um estudo da reforma.

“O estudo apresentado para transformar o espaço tinha sugestões que me pareceram boas e válidas. Eles podem fazer um anteprojeto com o qual nós podemos orçar a obra e gerar um projeto”, explica o subprefeito.

Segundo Fortner, o primeiro passo seria a reforma do telhado e da estrutura metálica. Haveria uma verba disponível em torno de R$ 500 mil da Secretaria de Gestão para o início das reformas.

No final de 2008, a partir da mobilização dos grupos, foi apresentada pela ex-vereadora Soninha, atual subprefeita da Lapa, e aprovada pela Câmara uma emenda no valor de R$ 350 mil para produção cultural e eventualmente para a aquisição de equipamentos. No entanto, a verba ainda não foi liberada. Por isso, a emenda ainda pode ser modificada e o dinheiro ser utilizado na reforma.

Segundo o subprefeito, com o projeto e o orçamento em mãos, é possível compor um pacote. O conselho gestor elegerá as prioridades para a melhoria do prédio. “Tudo está precário. Esperamos em agosto ou setembro começar a reforma. As atividades devem ser paralisadas. Até o começo de 2010, pretendemos estar com o prédio operando em condições adequadas”, promete Fortner.

Para o morador da região e arte-educador, Tchê Araújo, a proposta de intervenção no local causa impacto na comunidade, desprovida de opções culturais. “As pessoas se sentem valorizadas. O projeto do Sacolão é uma verdadeira possibilidade para as pessoas ampliarem seus horizontes”, complementa Rita Carneiro, membro da Rede Social São Luiz.

“Mais do que um prédio bonito, queremos que a comunidade se sinta acolhida no espaço e se aproprie desse equipamento público”, explica Kátia.

Atividades no Sacolão

O espaço fica aberto de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. Nos finais de semana, também abre quando há programação. No momento, são oferecidas oficinas de teatro aos sábados e em alguns domingos há exibição de vídeos

A Brava Companhia é responsável pela programação teatral. Além das oficinas, desenvolve outros três projetos no local. No “Brava Convida”, a companhia recebe outros grupos para exibir um panorama de produção teatral. Já o “Brava Conversa” é uma mesa de debates sobre um tema selecionado pela companhia. No “Brava para Escolas”, o grupo apresenta para as escolas do bairro seu espetáculo. O Sacolão também costuma receber peças infantis que estão em cartaz no Sesc Santo Amaro.

Além das oficinas teatrais, há aulas de vídeo, dança e maracatu, oferecidas pela Fundação Travessia, para crianças e adolescentes na faixa etária de 10 a 17 anos. São 60 participantes de onze escolas da região. “A ideia é, por meio das atividades, trabalhar a socialização das crianças e dos adolescentes”, explica o educador Pedro Padilha.

Outra atividade cultural é a oficina de violão, oferecida voluntariamente pelo morador da região, Paulo Mendes. Em 2008, participaram cerca de 30 jovens.

“Nós temos um envolvimento com a região. Muitos dos membros do coletivo são moradores da zona sul. Não fazemos um trabalho e vamos embora. Estamos construindo junto com os moradores esse espaço”, reforça a produtora Luciana Gabriel, da Brava Companhia.

Na quadra ao lado do Sacolão, o Instituto Patrícia Medrado oferece aulas de tênis para cerca de 100 participantes entre 7 e 16 anos de idade. Com a possibilidade de melhora do piso e a construção de uma cobertura pela Secretaria de Esportes, as atividades esportivas podem se ampliar no próximo ano.

Já o Núcleo de Comunicação Alternativa é responsável pela exibição de produções independentes no espaço aos domingos. Também planeja a criação de uma videoteca para empréstimo de vídeos alternativos aos moradores da região. “Nosso projeto não é arte pela arte, tem um cunho político”, disse André Luis Pereira, do NCA.

Compartilhe este artigo