86% dos paulistanos concordam que o racismo prejudica o desenvolvimento da cidade

Este é um dos dados da pesquisa “Viver em São Paulo: Relações Raciais”, que aborda diversas questões relacionadas ao tema e aponta alternativas para se enfrentar o problema

Por Airton Goes, da Rede Nossa São Paulo

Dados da pesquisa “Viver em São Paulo: Relações Raciais” divulgados nesta quinta-feira (18/11) revelam que a maioria dos paulistanos reconhece a existência de preconceito e racismo na cidade. O levantamento aborda também as consequências do problema e formas de enfrentá-lo.

Confira a apresentação da pesquisa “Viver em São Paulo: Relações Raciais”

Confrontados com diversas frases relacionadas ao tema, 86% dos entrevistados dizem concordar totalmente ou em parte com a afirmação: “o racismo prejudica o desenvolvimento da cidade”. Entre os brancos que responderam a pesquisa, o índice de concordância é levemente inferior, 84%. Já entre pretos e pardos, o número equivale a 87%.

Outras três afirmações submetidas aos pesquisados obtiveram concordância total ou parcial acima de 80%: “falar sobre racismo e preconceito em programas de TV, reality shows, etc. contribui para ampliar o debate sobre o tema” (83%); “mobilizações internacionais antirracistas são importantes para combater o preconceito” (82%); e “violência policial afeta principalmente as pessoas negras” (81%).

Realizada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ipec, a pesquisa constata que a percepção sobre o racismo é maior entre os segmentos da população que sofrem com o problema, ou seja, entre pretos e pardos.

Em relação à afirmação “violência policial afeta principalmente as pessoas negras”, por exemplo, o índice de entrevistados brancos que concordam totalmente ou em parte com a frase é de 76%, enquanto entre pretos e pardos o indicador sobe para 84%.

Outro dado do levantamento mostra que a maioria dos paulistanos percebe diferença no tratamento de pessoas pretas e brancas em diversos locais da cidade, especialmente em shoppings e comércios (78% dizem que há diferença nestes locais), escola e faculdade (74%) e ruas e espaços públicos (72%).

Os espaços em que há menor percepção de diferença de tratamento são o local onde se mora (48%) e o ambiente familiar (32%).

Como a pesquisa “Viver em São Paulo: Relações Raciais” ocorre desde 2018, é possível verificar algumas variações significativas em sua breve série histórica. Entre o levantamento realizado em 2020 e a edição atual – período de ocorrência da pandemia da covid-19 –, a percepção de diferença de tratamento entre pessoas negras e brancas nos hospitais e postos de saúde caiu 8 pontos percentuais, passando de 65% para 57%.

Em relação ao local de trabalho e transporte público também houve, durante o mesmo período (2020 e 2021), alterações na opinião dos entrevistados. A redução dos que afirmam haver diferença de tratamento, nos dois espaços, foi de 6 pontos percentuais.

Os entrevistados também opinaram sobre quais medidas seriam mais efetivas para combater o racismo ou o preconceito racial na cidade. Nesse sentido, a alternativa mais assinalada por eles, com 51%, é o “aumento da punição aos atos de injúria racial ou racismo”. Na sequência, 34% consideram importante “debater o tema em escolas, incluir o tema no currículo escolar”.

Já para 33% dos paulistanos, é preciso “punições mais severas para policiais que cometeram abusos contra pessoas negras”. Esta alternativa registrou redução de 8 pontos percentuais em comparação com a pesquisa realizada em 2020, quando 41% dos pesquisados a assinalaram.

Uma novidade na edição deste ano do levantamento é a inclusão no questionário de algumas medidas que as empresas poderiam adotar para assegurar um ambiente de trabalho sem racismo ou preconceito.

Para 46% dos pesquisados, as empresas deveriam “sempre se posicionar contra qualquer tipo de racismo ou preconceito racial”. Outros 36% consideram importante “treinar os funcionários para que possam acolher melhor as pessoas que sofreram racismo ou preconceito racial”.

Entre as medidas com maior adesão nessa área também estão: ter canais próprios para denúncias de casos, promover campanhas de conscientização e criar políticas para banir ou bloquear clientes que agredirem ou discriminarem funcionários em virtude de sua raça ou cor.

A pesquisa entrevistou 800 moradores da cidade de São Paulo, com 16 anos ou mais, e sua margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados obtidos no total da amostra.

Veja os dados completos do levantamento.

Secretária municipal de Cultura participa de lançamento da pesquisa

Os resultados da pesquisa foram apresentados em um evento online, que contou com a participação da secretária municipal de Cultura de São Paulo, Aline Torres.

Na abertura da live, a coordenadora da Rede Nossa São Paulo, Carol Guimarães, lembrou que o levantamento vem sendo realizado desde 2018 e destacou a relevância de se ter uma série histórica sobre o tema. “É importante conhecer esses dados, para saber se a cidade está avançando ou não”, afirmou.

Em seguida, Patrícia Pavanelli, do Ipec, iniciou a apresentação dos principais dados da pesquisa, chamando a atenção para o fato de as diferenças sociais e econômicas entre pessoas brancas e negras já estarem presentes no perfil dos entrevistados, evidenciando as desigualdades raciais da cidade.

Segundo ela, 15% dos brancos possuem o ensino fundamental, enquanto entre pretos e pardos esse índice é de 41%. A escala se inverte no ensino superior, com 49% dos brancos assinalando esta escolaridade, ao passo que entre os pesquisados pretos e pardos o percentual é 22%.

Outro exemplo de desigualdade citado pela diretora do Ipec é a renda familiar, pois 24% dos brancos declaram fazer parte de famílias que ganham acima de 5 salários mínimos. Já no universo amostral de pretos e pardos, apenas 11% assinalam pertencer a este grupo de renda mais alta.

Na parte de baixo da tabela, 33% dos brancos dizem ter renda familiar de até 2 salários mínimos, índice que alcança 58% entre pretos e pardos.

Após apresentar os dados, Pavanelli pontuou alguns dos “aprendizados” da pesquisa. “Existe um consenso de que o racismo prejudica o desenvolvimento da cidade de São Paulo”, considerou ela, antes de complementar: “e, para combater o problema, os paulistanos apostam no aumento da punição contra o racismo e a injuria racial”.

Em sua fala, a secretária municipal de Cultura, Aline Torres, realçou a importância dos resultados contidos no levantamento. Segundo ela, o desafio é “fazer com que esses dados [da pesquisa] cheguem até as pessoas”.

Referindo-se ao fato de 34% dos pesquisados acharem importante debater o tema em escolas ou incluí-lo no currículo escolar, a secretaria defendeu: “a educação é uma das principais ferramentas para reduzir o racismo”.

Ao abordar a pouca representatividade das pessoas negras nos espaços de poder, ela lembrou que em todo o estado de São Paulo, com seus 645 municípios, há apenas uma prefeita negra. Trata-se de Suéllen Rosim, da cidade de Bauru.

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