Todos perdemos quando nossa juventude morre

Nota Pública Rede Nossa São Paulo

O episódio brutal ocorrido neste final de semana na favela de Paraisópolis que levou à morte de nove jovens é uma tragédia anunciada, fruto de uma somatória de preconceitos, violência e desigualdade. Marcas de uma cidade que ainda é vivida plenamente somente por poucas pessoas.

O distrito de Vila Andrade, no qual está situada a favela de Paraisópolis, há anos é o símbolo de uma sociedade dividida, diversas vezes representada por imagens que retratam edifícios de classe média alta separados, por muros, da segunda maior favela de São Paulo, onde vivem mais de 100 mil pessoas.

Quem mora em Paraisópolis não conta com NENHUM equipamento público de cultura, de acordo com o Mapa da Desigualdade produzido anualmente pela Rede Nossa São Paulo a partir de dados oficiais da Secretaria Municipal de Cultura. Além disso, o distrito mantém o maior tempo de espera por uma consulta com clínico-geral na rede pública de saúde do município: 75 dias (a média da cidade é de 19 dias).

O baile funk, criminalizado por alguns segmentos da sociedade, tem sido, assim, uma das grandes opções de lazer e cultura jovem em Paraisópolis. Entretanto, em que pesem as dificuldades de convivência da vizinhança com o volume do som e o número de pessoas, típicos das festas, até hoje não se propôs espaço adequado ou alternativa de local para as atividades destes jovens. Vila Andrade também não possui NENHUMA sala de shows ou concertos.

A resposta do poder público é autoexplicativa: a “dispersão”. Foi com este objetivo e utilizando “armamento não-letal” que a operação da Policia Militar levou à morte de nove pessoas, além de dezenas de feridos. Não se pode admitir que a maior e mais rica metrópole da América Latina assista passivamente à morte de nove jovens pisoteados em meio às suas ruas e vielas.

Estaremos atentos, junto com outras organizações da sociedade civil, às investigações e à criação de políticas de segurança que estejam a favor da prevenção e da mediação de conflitos.

Não há justificativa nem narrativas que justifiquem a morte de uma das maiores riquezas da sociedade, a nossa juventude.

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