Plano com metas seria bem-vindo, ministro

Por Ricardo Mendonça

No artigo "O jornalismo, o joio e o trigo (2/10), o ministro Thomas Traumann (Secretaria de Comunicação Social) reclama da reportagem "Dilma não cumpriu 43% das promessas de 2010 (29/9), conclusão a que a Folha chegou após avaliar o cumprimento de 69 promessas daquela eleição e atribuir notas numa escala de A (100% realizadas) a D (esquecidas).

A escala era simplificada porque quase todas as promessas feitas por escrito eram genéricas, sem metas ou prazos.

Traumann começa reclamando da metodologia adotada: "A Folha […] dá o mesmo peso a temas tão díspares como a ampliação do efetivo de um órgão e a redução da pobreza ou o controle da inflação. É óbvio que uma avaliação séria daria mais peso às duas últimas", diz.

O ministro tem razão ao desejar pesos diferenciados. Mas há um problema prático nisso. Quais seriam os pesos corretos? No exemplo que ele escolheu, inflação é quantas vezes mais importante que o fortalecimento de um órgão? Duas? Dezessete? Cem? Se ele tiver a solução, será bem-vinda. Para não aumentar a subjetividade da avaliação, optou-se por dar pesos iguais. Como, aliás, já estava explicado na reportagem.

Das 69 avaliações, Traumann questiona 7. Ele não reclama de nenhuma nota D, mas do C (resultado insatisfatório) para a promessa da reforma política. Diz que o compromisso de encaminhar a proposta de plebiscito para o Congresso foi cumprido e que não é certo cobrar a realização do Executivo, ação que cabe ao Legislativo.

As duas afirmações são verdadeiras. Mas, diferentemente do que ele sugere, o Executivo não foi cobrado pela realização da reforma. Avaliou-se o encaminhamento do tema, a iniciativa. E o método mostrou-se equivocado. O que a presidente Dilma Rousseff efetivamente fez –só no terceiro ano, acuada pelos protestos de junho de 2013– foi tentar aprovar às pressas um plebiscito para uma Assembleia Constituinte exclusiva para a reforma.

Tão às pressas que, embora ressalte o papel do Legislativo, simplesmente "esqueceu" de articular com a principal liderança do PMDB, o vice Michel Temer.

Constitucionalista, Temer poderia ter explicado sobre a viabilidade legal da inusitada ideia de Constituinte parcial. Talvez teria evitado o vexame que levou ao recuo 24 horas depois. Isso mereceria que nota? A?

Inflação (nota C) foi alvo de outro protesto: "A Folha escolhe avaliar pelo centro da meta […] A inflação está sob controle, dentro das bandas fixadas", diz ele.

Optou-se pelo centro da meta (4,5%) porque os intervalos de tolerância servem para acomodar eventuais desvios. Mas o que o Banco Central de Dilma fez foi manter a inflação próxima do teto ao longo de todo o mandato.

Não era o que se entendia por controle da inflação em 2010. A própria Dilma dizia: "Controlamos a inflação em 4,5%". O ex-ministro da Fazenda e o atual presidente do BC acenavam até com a possibilidade de reduzir a meta. A inflação dos anos Dilma não está igual nem menor que a de Lula. Por quê mereceria nota máxima?

"A valorização do salário mínimo virou lei e seu crescimento foi de 12%", diz Traumann, descontente com o B (uma nota positiva) no tema. Explicação simples: Dilma e o governo projetavam um mandato de forte crescimento; logo, essa era também a expectativa vendida de valorização do salário. Foi menor.

Em outro trecho, ele sugere que a interlocução do governo com a Confederação Nacional da Agricultura é ótima; assim, seria injusta a avaliação negativa no tema agronegócio. Pode ser. Mas com outros não se vê tanta sintonia. A Sociedade Rural Brasileira lista críticas. O grupo do etanol diz que o governo ajudou a quebrar o setor.

Dilma ganhou nota positiva na promessa de "erradicar a pobreza", outro B. Mesmo assim, o ministro reclamou. Ora, se a pobreza absoluta não foi erradicada –tanto que há o louvável esforço para encontrar muitos que ainda estão fora do Bolsa Família– o compromisso ainda não foi concluído.

A propósito, Traumann diz desconhecer o estudo do Ipea que cita 6,5 milhões de miseráveis em 2012. Existe, sim. Chama "Duas décadas de desigualdade e pobreza no Brasil", de outubro de 2013. O dado está na página 18.

Sobre o transporte urbano, ele diz que a Folha inventou o limite de 30% de investimento do governo. Não há invenção: 30% é a média que o governo tem investido nos 34 projetos de metrô, VLT e corredores em curso nas capitais. Bom, como denota o B atribuído, mas insuficiente diante do desafio.

O ministro diz que o contingente da Polícia Federal cresceu 1,2% desde 2010. Não é o que diz o último Boletim Estatístico de Pessoal do governo: 14.459 funcionários em 2010, 13.626 em 2014.

"A reportagem tenta cumprir a louvável função de avaliar o cumprimento de metas do governo", diz Traumann no início de seu texto.

Se acredita mesmo que é uma causa louvável, o ministro poderia contribuir tentando convencer Dilma a publicar um plano de governo nesta campanha. De preferência com metas e prazos.

Leia a reportagem sobre as promessas de Dilma

folha.com/no1524018

folha.com/no1524077

Leia o artigo de Thomas Traumann na seção Tendências e Debates'

folha.com/no1525682 

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