O esplendor do mangue aos olhos de uma criança – por Nicoly Vieira

Há alguns anos atrás, eu adorava ser levada por meu pai até as margens da Lagoa do Saguaçu.

Quando a maré estava seca eu observava o mangue com todo o seu esplendor, era incrível ver os caranguejos e siris entrando e saindo de seus pequenos furinhos na lama; vários pássaros tão alvos como a neve se debruçavam na lama atrás do seu alimento.

Essa semana, a caminho da escola, observei as margens da ciclovia: a região que me fascinava há alguns anos atrás, agora não apresenta mais siris, caranguejos e nem mesmo aves.

As únicas coisas que vejo são dejetos, lixo de todo tipo imaginável. As placas de “proibido jogar lixo” são ignoradas, e as pessoas que antes, assim como meu pai, levavam seus filhos para apreciar a lagoa, hoje reclamam do mau cheiro, que elas mesmas provocaram com seu desrespeito.

Aqui, sempre nos deparamos com abaixo-assinados de alguns empresários,
para que o mangue seja aterrado possibilitando a abertura de novos loteamentos, sem respeitar as Leis ambientais. Se isso acontecer, mais de duas mil espécies relacionadas desaparecerão. A infância dos meus filhos não será tão boa quanto a minha foi e o lugar onde eu vivo, nunca mais será o mesmo.

Representantes do povo têm exercido papel fundamental na destruição da fauna e da flora joinvilense. Muitos lidam com esse assunto como se o mangue não tivesse importância alguma na vida das pessoas. Desde o princípio da cidade de Joinville, a imagem do mangue é denegrida e a ele não é dado o devido valor.

É importante lembrar que o mangue não invadiu a cidade, pelo contrário, nós o invadimos, aterramos e destruímos boa parte do seu território.

As crianças, com toda a sua pureza e inocência, sabem apreciar a beleza do mangue na sua essência original, agregando a ele o sinônimo de vida.
Meu apelo a você, é que enxergue o mangue com os olhos de uma criança, preservando e cuidando do pouco que ainda resta deste berço natural.

Não tenha vergonha de assumir que o mangue fez ou faz parte da sua vida.
Não sustente a ideia de que ele é um local sujo e mal cheiroso.

O que cheira mal de verdade é a imprudência de algumas pessoas.

Se unirmos forças, ainda posso ter a esperança de oferecer aos meus filhos a alegria que meu pai me dava nos fins de tarde.

Sou Nicoly Vieira, tenho 15 anos, e sou estudante da escola Dr. Tufi Dippe. Escrevi este texto para as Olimpíadas de Língua Portuguesa, do Ministério da Educação e Cultura. O tema era: “O lugar onde eu vivo”. Sou moradora de Joinville, no bairro Espinheiros.

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