Jovens estão em Brasília para discutir políticas públicas

 

Fonte: Projeto/Revista Viração

Thais Chita

Mais de dois mil delegados(as) de todo o país, além de convidadas(os), vão eleger, durante a1ª Conferência Nacional de Juventude que acontece até o dia 30, as prioridades que nortearão as políticas públicas do segmento no Brasil. Foram elaboradas quase 4.500 propostas nas etapas anteriores.

Quem ainda acha que a juventude atual brasileira está apática à política e apenas preocupada com questões que não passam, necessariamente, pelos espaços de participação, decisão e transformação da realidade local e/ou nacional, não vem acompanhando as últimas notícias do segmento.

Durante os três dias da 1ª Conferência Nacional de Juventude, que está acontecendo em Brasília, mais de dois mil delegados(as) e convidados(as) elegerão as prioridades para a juventude brasileira. Sob o tema Levante sua Bandeira, desde setembro de 2007, jovens, gestores públicos, lideranças políticas e a sociedade em geral mobilizaram 841 municípios distribuídos nos 27 Estados da federação. Toda essa articulação resultou em quase 4.500 propostas sugeridas por 406 mil pessoas, em sua maioria jovens que participaram das Conferências Livres e Estaduais. Além da Consulta Nacional aos Povos e Comunidades Tradicionais, que antecederam a etapa nacional.

“Tentamos construir esse processo histórico de diálogo com os jovens de maneira mais ampla e democrática possível e que, com certeza, resultou em um desenho inovador e mobilizador de atuação da juventude. Quisemos propiciar diferentes formas de organização para fortalecer de fato este segmento”, declarou Danilo Moreira, presidente do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), na abertura, ao comentar também sobre as Conferências Livres, um dos destaques. Elas foram as responsáveis pela maior parte das propostas: 3.868 frente as 624das demais. “Qualquer pessoa ou organização poderia organizar uma Conferência Livre. Bastava estabelecer algum contato com a organização mais próxima, associação de bairro, grupos juvenis, culturais e etc. Foi uma etapa fundamental para mobilizar e integrar diferentes grupos para a etapa nacional”, conta Káthia Dudky, secretária de Mobilização Social do Instituto Paulo Freire.

Na opinião de Luiz Dulci, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, “a juventude de hoje, ao contrário do senso comum, está tão participativa como foi em outros momentos da nossa história. Arrisco até em dizer que sua atuação é mais abrangente e não tão partidária. Entendo estarmos em um momento de elevado nível de consciência política por parte deles porque vêm respondendo aos problemas da realidade atual de maneira que a mesma requer. Basta espaço para falarem”. Para o ministro, os participantes chegaram a Brasília imbuídos de valores e convicções que contribuirão com um projeto social de Estado. “As reivindicações de vocês estão contribuindo para o conjunto de vários segmentos da sociedade porque não são coorporativas”, completou ao justificar que o tema política externa e o apoio à proposta de participação do Brasil no Conselho Nacional de Segurança das Nações Unidas foram debatidos em algumas conferências.

Recorrendo às influências africanas na cultura brasileira,a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, lembrou um provérbio que diz que “ao tomarmos a terra emprestada de nossos filhos e netos,devemos devolvê-la com, no mínimo, condições iguais ou ainda melhor do que encontramos.” Enfatizou que é possível sim contribuirmos com a estabilidade política e econômica do país de maneira sustentável. “A conferência deve ser orientadora do papel da juventude que está atenta sim às resoluções preocupadas coma não destruição da natureza, com o legado para as próximas gerações e igualmente em busca de conhecimento, informações porque percebem que assim terão capacidade maior de intervir no controle e na participação social. E nós (do governo) temos que implementar políticas públicas de juventude junto com vocês e não para vocês.” Aos 57 anos, Arlete Sampaio, ministra interina do Ministério do Desenvolvimento Social, disse que participa pela primeira vez de uma conferência de juventude. “Está sendo enriquecedor aprender com vocês porque sinto como se estivesse em uma corrida de revezamento. Muitos da minha geração fizeram contribuições importantes na luta pela democracia brasileira e que vocês estão dando continuidade nesse momento.”

Painel apresenta estado da arte dos debates sobre juventude

Logo após a abertura da Conferência, o painel de contextualização foi um momento de apresentar aos participantes como o tema vem sendo tratado no Brasil e apresentou algumas provocações para as discussões dos grupos de trabalho. Segundo Ellen Linth, ex-presidente do Conselho Nacional de Juventude, a mudança no patamar das políticas públicas de juventude exige que governo e sociedade civil organizada passem a tratar o tema de maneira positiva.

“Gostaria de deixar minha contribuição nesse sentido de provocar os grupos para que, nos próximos dias, pensem em como contribuir de maneira para a mudança de fato dessa imagem cristalizada da juventude, estereotipada, marginalizada de que jovem é sinônimo de problema. A juventude precisa ser vista como sujeito de direitos.”

A ex-presidente do Conjuve também ressaltou a importância de que a juventude atue em conjunto, em harmonia com pessoas de outras faixas etárias para viabilizar as políticas públicas necessárias ao atendimento de seus interesses. “Existem sim divergências nas relações intergeracionais. Mashá também muito diálogo e é assim que temos que construir esse processo: de maneira afetiva e efetiva.”

Segundo Regina Novaes, pesquisadora especialista no tema, a juventude deve ser olhada com muita atenção, pois é um dos segmentos que mais sofre a desigualdade social no país. Além disso, ela é resultado do seu tempo histórico, o que produz marcas geracionais comuns, como o medo de sobrar sem lugar no mundo do trabalho, o medo de morrer de maneira precoce e violenta e o sentir-se desconectado em um mundo conectado pela internet e pelo narcotráfico que acabam produzindo graus elevados de vulnerabilidade.”

Para Beto Cury, Secretário Nacional de Juventude, nos últimos três anos, o país avançou muito nas políticas públicas para juventude, cujo exemplo é a criação da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude.“Porém, queremos que o tema seja uma política de Estado. Para isso, a Secretaria tem trabalhado com três diretrizes fundamentais: fortalecimento institucional e constituição de um Marco Legal relacionado ao tema com ações como a multiplicação de espaços e formação de gestores públicos de juventude; inclusão social com a integração dos programas federais para o segmento; e participação social via fortalecimento do Conjuve,realização desta conferência entre outras ações.”

Veja a cobertura da Conferência feita por jovens da Viração

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