Participantes de debate apelam a prefeito eleito para que não aumente a velocidade

Representantes da sociedade civil e cidadãos que lotaram a audiência pública, na Câmara Municipal, querem que Dória reveja sua proposta de campanha e priorize a vida

Por Airton Goes, da Rede Nossa São Paulo

A quase totalidade dos representantes da sociedade civil e cidadãos que lotaram o Auditório Prestes Maia, na Câmara Municipal, para participar do debate sobre limite de velocidade e seu impacto em São Paulo, quer que o prefeito eleito João Doria reavalie sua proposta de campanha e priorize a preservação da vida.

Durante a audiência pública, convocada pelo vereador José Police Neto, presidente da Comissão de Trânsito e Transporte, e realizada nesta quarta-feira (26/10), diversos participantes fizeram apelo para que Doria não aumente as velocidades máximas permitidas nas marginais – que atualmente é de 50 km por hora na via local e 70 km por hora na chamada via expressa – e nem promova “retrocessos” na área de mobilidade urbana.

Um dos mais enfáticos na defesa da manutenção das velocidades nas marginais foi o jornalista Gilberto Dimenstein. 

Dirigindo-se ao vereador eleito Daniel Annenberg (PSDB), ele argumentou: “você, que foi presidente do Detran e, portanto, conhece o assunto, além de ser do mesmo partido do futuro prefeito, é a pessoa mais importante na cidade para evitar essa sandice [a volta das velocidades anteriores nas marginais]”.

Na avaliação de Dimenstein, Doria não tem nenhum interlocutor melhor do que Annenberg para discutir o assunto. “Você Daniel é o grande interlocutor [do prefeito eleito] e está em suas mãos impedir o aumento de mortes de pessoas por acidentes de trânsito”, reforçou o jornalista.

Ele alertou que o aumento da velocidade nas marginais será um desastre para a imagem do futuro prefeito. “Na primeira morte de uma pessoa atropelada por um carro a 90 quilômetros por hora, quem que as pessoas vão culpar?”, questionou, antes de responder em seguida: “o prefeito”. 

Para monitorar o impacto do aumento da velocidade – caso Doria não desista da ideia –, Dimenstein propôs que sejam instaladas duas grandes placas nas marginais: uma informando o número de mortes por acidentes de trânsito em 2016 e outra com o mesmo dado de 2017. “É impossível que o número de mortes não aumente”, argumentou.

Daniel Annenberg, por sua vez, ponderou “que só a redução de velocidade não adianta”. Embora tenha se declarado a favor da manutenção das velocidades nas marginais, ele destacou a importância de uma política de segurança viária mais ampla e defendeu algumas medidas. “Temos que ter campanhas educativas, melhorar a formação do condutor, que hoje é muito ruim, cuidar  melhor das vias e fazer com que a Justiça seja mais célere”, pontuou.

Leão Serva, outro jornalista que participou do debate, também considerou que a cidade precisa fazer “outras lições de casa” em matéria de segurança no trânsito e na mobilidade urbana, destacando que é fundamental melhorar as calçadas e levar as ciclovias, que hoje estão concentradas na região central, para toda a cidade. “Entretanto, não podemos desfazer aquela [lição de casa] que já fizemos”, ponderou ele, ao se posicionar claramente contra o aumento da velocidade. 

De acordo com o jornalista, os eleitores não escolheram João Doria por causa da proposta de aumentar a velocidade. “Só 1% votou no prefeito eleito por esse motivo. O que pesou mesmo foi a questão da saúde.” 

Na opinião de Serva, o futuro prefeito tem clareza que, mesmo diante de seus eleitores, a questão do aumento de velocidade é irrelevante. 

Para ele, agora é preciso focar os esforços “para convencer o prefeito eleito a avaliar os dados disponíveis, que são incontestáveis”. 

Os dados e argumentos para sensibilizar o futuro mandatário da capital paulista a não aumentar a velocidade foram apresentados por diversos representantes de organizações da sociedade civil, entre os quais Eduardo Vasconcellos, do Instituto Movimento, Horário Augusto Figueira, da Associação Brasileira de Pedestres, e Luiz Mantovani (Branco), da Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP.  

Mantovani, por exemplo, apresentou um gráfico mostrando que as mortes no trânsito em São Paulo vêm caindo desde 1986, quando 2.885 pessoas morreram nas vias paulistanas. No ano passado, esse número atingiu 992, o patamar mais baixo da série histórica.

O vereador Nabil Bonduki defendeu as ações e iniciativas da atual administração da Prefeitura de São Paulo, argumentando que a redução de velocidade não é uma medida isolada. “Ela se insere em uma visão de cidade que está sendo implementada nessa gestão, com o programa Ruas Abertas, a ampliação das ciclovias e a prioridade para o transporte público.”

Segundo ele, essa visão de cidade está consagrada no Plano Diretor Estratégico, que foi aprovado na gestão do prefeito Fernando Haddad. 

O coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Mobilidade Urbana da Rede Nossa São Paulo, Carlos Aranha, acompanhou a audiência pública. Recentemente a organização lançou um Manifesto em Defesa da Vida, que ainda está recebendo novas adesões e será entregue ao prefeito eleito João Doria. 

Ao final do evento, o vereador José Police Neto, promotor da audiência pública, informou ao portal da Rede Nossa São Paulo que a Comissão de Trânsito e Transporte da Câmara Municipal deverá dar continuidade ao debate sobre o tema da velocidade nas vias públicas. 

“Talvez a reação negativa de parte da sociedade tenha sido causada por um problema de comunicação [da Prefeitura], mas esse problema de comunicação não invalida o que foi feito”, afirmou Police Neto, ao defender a manutenção das velocidades atuais nas marginais. 

 

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