Dia Mundial da Água serve de alerta para a crise da água

No dia 22 de março é celebrado o Dia Mundial da Água. A data passou a fazer parte do calendário internacional no ano de 1992, criada pela ONU (Organização das Nações Unidas). Ela foi destinada para promover debates sobre o tema. O que poucos sabem é que o planeta Terra é coberto de 70% de água e apenas 1% é potável. Deste total, 12% encontram-se no Brasil. Atualmente, o tempo é de grave crise hídrica em algumas regiões do país, principalmente a Sudeste. Por conta disso, a conscientização e discussão sobre a temática se faz cada vez mais necessária.

O engenheiro Júlio Cerqueira César Neto, professor aposentado de Hidráulica e Saneamento da Escola Politécnica da USP, explica que a crise enfrentada pela cidade de São Paulo demorará a ter seus efeitos sanados. “Pelo menos, a gente vai ter essa situação por uns dois ou três anos”, acredita Júlio. Ainda segundo ele, “nenhuma medida para solucionar o problema tem sido feita por parte do governo”.

Em nota enviada à Gazeta de Pinheiros – Grupo 1 de Jornais, a Sabesp afirma que tem realizado uma série de medidas desde o ano passado para reduzir a retirada de água do Sistema Cantareira, o mais afetado pela falta de chuvas. Segundo a companhia “a criação do bônus e a interligação de sistemas possibilitaram a redução de retirada de água do Cantareira de 31 m3/s em janeiro de 2014 para cerca de 14 m³ neste ano”.

Desde quando começou sua operação, em 1973, o Sistema Cantareira se tornou o principal responsável por abastecer a cidade de São Paulo. Esse papel deixou de ser ocupado no ano passado, com a forte seca que atingiu os mananciais. Em fevereiro de 2015, a Cantareira produziu em média 14,03 m³/s, contra 14,49 m³/s do Guarapiranga, seguidos pelo Alto Tietê, que entregou 11,04 m³/s no período. Comparando a produção de fevereiro de 2014 com a de fevereiro de 2015, a retirada de água do Cantareira teve uma redução de 56%.

Apesar da redução na utilização do Sistema Cantareira, Júlio afirma que o rodízio de água tem acontecido em São Paulo “há pelo menos seis meses” e tem atingido as regiões de forma desigual. “Qualquer elemento que mora nesta cidade sabe que o racionamento está sendo realizado. Só que ele não é homogêneo na cidade toda. Não é de forma igual para todo mundo”, explica o engenheiro.

A Sabesp não desmentiu a informação de Júlio sobre o rodízio irregular, mas afirmou que “o rodízio é uma das hipóteses e não está descartado”. Ela também ressaltou que a colaboração da população com o uso racional da água é fundamental. O programa de bônus aos clientes que reduziram o consumo resultou numa expressiva economia de água, com adesão de 81% dos usuários, segundo a própria companhia.

A questão do déficit de água enfrentado pela cidade é escondida dos paulistanos, segundo o engenheiro. “Nós estamos com um déficit hoje de mais de 40 m³. Nós dispomos de menos da metade da água que a cidade necessita. Estamos sem água, e não há condições de termos água em curto prazo”, alerta Júlio. O uso da água de esgoto do Rio Pinheiros para ajudar no abastecimento é, para ele, “insuficiente” diante do atual cenário.

Dentre as medidas que a Sabesp afirmou que têm sido feitas estão a prorrogação do programa do bônus em suas três faixas até o final de 2015. Serão mantidas as três faixas de bonificação atuais: imóvel com redução igual ou maior a 10% e menor do que 15% no consumo tem bônus de 10%; quem baixa o gasto de água de 15% a menos de 20% tem uma redução na conta de 20%. E para o consumidor que fizer economia de 20% ou mais, o desconto é de 30% na conta. O bônus vem registrando a adesão de 80% dos consumidores.

Júlio explica que a solução mais fácil encontrada para os paulistanos para enfrentar o problema é a abertura de poços artesianos. “A única coisa que pode ser feita por agora é abrir poço profundo. Mas, se todo mundo abrir, não vai sobrar para ninguém”, alerta o engenheiro, que completa sobre os riscos. “A capacidade do nosso lençol freático subterrâneo é limitadíssima.”

Com atual cenário de escassez de água, o engenheiro projeta um futuro complicado em termos de saúde pública: “Epidemias que tínhamos superado antigamente, como epidemia de tifo e surto de diarreia voltarão ser problema para nós”, lamenta. Ainda segundo ele, as doenças poderão aparecer com mais força nos “próximos três ou dois anos”.

Para punir quem excede o consumo de água, a Sabesp tem multado os consumidores desde o ano passado.  A taxa é de 40% sobre o valor da tarifa para quem exceder até 20% a média do consumo ou 100% sobre o valor da tarifa para quem exceder 20% da média. Os índices são aplicáveis somente sobre consumo de água encanada daqueles que excederem a média do consumo de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014. A sanção estará em vigor até o fim do ano.

Para que o cenário não se torne ainda pior, é necessária a economia, antes que seja tarde demais. Portanto deve-se ficar atento aos vazamentos, fazer a reutilização da água de máquinas de lavar, usar regador para molhar as plantas, não usar o vaso sanitário como lixeira e escovar os dentes de torneira fechada. Essas são só algumas dicas que podem fazer diferença para salvar o bem tão precioso que é a água.

Matéria originalmente publicada no jornal Gazeta de Pinheiros

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