“Análise: Avanço não indica melhora nas políticas de educação” – Folha de S.Paulo

Paula Louzano
 
Entre as edições de 2003 e 2012 do Pisa, o Brasil aumentou 35 pontos em matemática e foi o país que mais avançou no período.
 
No entanto, uma análise mais cuidadosa do nosso desempenho esconde a verdadeira tragédia do sistema educacional brasileiro.
 
Apesar desse crescimento, quase 70% dos nossos jovens não sabem suficientemente matemática para continuar aprendendo na escola ou mesmo competir no mercado de trabalho, segundo padrões da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne países industrializados).
 
Isso porque eles não são capazes, entre outras coisas, de usar a informação de uma tabela ou de um gráfico para calcular uma média ou uma tendência.
 
É ainda mais grave constatar que 23% dos brasileiros de 15 anos não participaram do Pisa. Esta é a parcela de jovens que estão fora da escola ou têm mais de dois anos de atraso escolar.
 
Ou seja, se todo esse contingente estivesse na escola como deveria, os resultados brasileiros poderiam ser ainda piores.
 
Além disso, como comemorar os pontos ganhos no Pisa se o aumento na nota brasileira se deu com maior força entre os piores alunos, cuja nota média na edição de 2003 equivalia a zerar na prova, e hoje, quase dez anos depois, esse mesmo grupo ainda não é capaz de ler uma única informação em um gráfico de barras?
 
As análises do Pisa mostram que metade do ganho brasileiro se deveu a mudanças no perfil social dos alunos, e não a um conjunto de iniciativas para melhorar o ensino da matemática.
 
Aliás, a falta de políticas públicas específicas fica patente na análise dos nossos melhores alunos: entre eles, não houve nenhum avanço e permanecem no mesmo nível intermediário que estavam em 2003.
 
Ou seja, não são capazes, em sua maioria, de calcular os juros de uma compra.
 
Os dados do Pisa trazem informações valiosas para os gestores dos sistemas educacionais de todo mundo. É hora de nos debruçarmos sobre eles, como fazem os países desenvolvidos, e buscarmos soluções estruturais para os nossos problemas crônicos.
 
(PAULA LOUZANO é pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.)
 
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