Oded Grajew: sabemos qual a situação, o que deve ser corrigido e temos recursos

O coordenador-geral do Programa Cidades Sustentáveis e da Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew, argumentou, em sua participação nesta tarde no 2º Encontro dos Prefeitos com o Desenvolvimento Sustentável, promovido pela Frente Nacional dos Prefeitos, em Brasília, que os gestores possuem hoje em dia as informações e as ferramentas necessárias para optar pela sustentabilidade. "Sabemos qual é a situação, os problemas, e o que deve ser feito para ser corrigido. E não só isso. Recursos existem, só são pessimamente distribuídos", disse durante uma arena de debates, que contou ainda com a participação do jornalista André Trigueiro; o prefeito de Porto Alegre (RS) e da Frente Nacional de Prefeitos, José Fortunati; a secretária-executiva para América do Sul do ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade, Florence Laloe; e o secretário Executivo do Ministério do Meio Ambiente, Francisco Gaetani.

"Precisamos despoluir a nossa cabeça do conhecido, do rumo automático, e tomar uma decisão de mudar. Sustentabilidade é escolha", enfatizou Grajew, que também é coordenador-geral da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto Ethos.

"Ditadura é insustentável, democracia é sustentável. Encher as ruas de carros é insustentável. Dar prioridade ao pedestre, ao ciclista, é sustentável. Você pode ter ditaduras em espaços de tempo, encher as ruas de carro e achar que está tudo bem, jogar lixo nos rios, mas num determinado momento o processo entra em colapso. Por isso é insustentável", argumentou.

Para ele, é preciso levar a sério quando os cientistas dizem que a sociedade corre riscos de sobrevivência se continuar com o mesmo modo de vida. E lembrou o tempo em que os paulistanos nadavam no Rio Tietê: "Havia os ‘ecochatos’ dizendo que um dia o rio iria morrer porque não estavam cuidando dele, e ninguém acreditava. Hoje temos dois esgotos ao ar livre."


Indicadores

Feita a escolha pela sustentabilidade, o segundo passo do gestor é utilizar indicadores sociais, que possibitam avaliar a cidade do ponto de vista da sustentabilidade, e, em seguida, criar metas, para que melhorias possam ser alcançadas. "Você age sobre aquilo que você tem condições de medir. Uma coisa é saber que precisa cuidar das crianças, outra coisa é saber qual é a mortalidade infantil, quantas gestantes fazem pré-natal etc.", observou.

Os prefeitos que assinam o compromisso com o Programa Cidades Sustentáveis – mais de 220 até agora, incluindo 20 capitais brasileiras – precisam apresentar até o dia 15 de maio um relatório diagnóstico da cidade com base em seus indicadores, bem como um plano de metas. E, tanto para formular essas metas como cumpri-las, o prefeito tem acesso a amplo material – o que inclui o Guia GPS (Gestão Pública Sustentável), que oferece exemplos de ações possíveis, colocadas em prática em várias partes do planeta.

E mais: para premiar os prefeitos e dar a eles visibilidade, foi lançado também no evento em Brasília, nesta quinta-feira, o Prêmio Cidades Sustentáveis. "O prêmio vai valorizar a prefeitura, o  prefeito que se engaja nesse processo e que seja exemplar para nós, para o Brasil e para o mundo. O desafio é tornar o Brasil uma referência mundial de sustentabilidade."


Termômetro do ar

Oded Grajew iniciou sua fala na arena de diálogos do encontro comemorando a sanção, embora com atraso de quase dois anos, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, da mudança dos critérios para avaliação da qualidade do ar no estado. A partir de agora, com os novos parâmetros, um dia considerado atualmente “regular” passará a ser classificado como “ruim”. A Rede Nossa São Paulo teve participação incisiva nessa no processo, realizando inclusive um abaixo-assinado propondo que a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) adotasse “o quanto antes possível, os padrões da OMS para a classificação da qualidade do ar em São Paulo”.

Em maio de 2011, o Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) aprovou, por unanimidade, o relatório interinstitucional que definiu novos parâmetros para medição da qualidade do ar. O documento vinha sendo preparado desde o ano anterior por representantes de diversas organizações públicas e da sociedade civil. A RNSP acompanhou a reunião do Consema à época.

As medidas anunciadas em 2011 passam a valer agora, com o decreto que acaba de ser assinado pelo governador do Estado. 

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