“A SP de hoje vai de Campinas a Santos”, entrevista de Jorge Wilheim – Folha de S.Paulo

JORGE WILHEIM, 84, arquiteto e urbanista

Para urbanista, problemas da cidade devem ser vistos como os de uma macrometrópole’ com 20 milhões de habitantes

ANA ELISA FARIA

Nascido em Trieste, na Itália, Jorge Wilheim, 84, chegou a São Paulo ainda menino, quando os bondes circulavam pelas ruas. Às vésperas de completar, em abril, seis décadas de carreira, o responsável por obras como a reurbanização do vale do Anhangabaú, de 1981, avalia que a cidade evoluiu, mas cresceu desordenadamente.

Ex-secretário de Planejamento de Marta Suplicy (2001-04) e um dos responsáveis pelo Plano Diretor de 2002, ele diz acreditar que cada bairro tem seus próprios problemas urbanísticos. "O importante é saber o que fazer para adequar o sistema de vida da população ao ambiente que a rodeia."


O senhor chegou a São Paulo aos 11 anos. Qual foi a primeira impressão?

Bom, eu era um menino. Moramos em uma casinha na alameda Franca e depois fomos para a alameda Jaú, num terreno que tinha até uma horta. Chamaram a minha atenção o bonde e o número de meninos descalços pela rua. Também me impressionou a quantidade de árvores.
São Paulo era muito arborizada.


A cidade ficou melhor ou pior?

Melhor. Mas, por outro lado, a cidade cresceu sem planejamento, não está contida nas fronteiras do município. A São Paulo de hoje começa em Campinas, passa pela capital e desce até Santos.
É o que chamo de macrometrópole, que tem 20 milhões de habitantes. E é essa a dimensão na qual têm de ser vistos os problemas de transporte público, saneamento e preservação dos parques.


O que mudou na cidade para que o Plano Diretor tenha de ser revisado?

Ele não precisa ser reformulado. Quer dizer, você estabelece diretrizes de dez anos e depois é necessário rever os procedimentos para o próximo período. Há uma etapa de quatro anos porque o prefeito pode mudar, e não é justo criar uma camisa de força. Mas não há necessidade de trocar a estrutura do plano, que me parece formalmente sólido.

Qual é a melhor forma de os cidadãos ocuparem a cidade?

Em primeiro lugar, o setor público tem de cuidar muito mais dos espaços públicos. É importante que ruas e praças não só estejam bem cuidadas mas também bem mobiliadas. Quando se fala em área verde, não temos condições de ter centenas de Ibirapueras. Mas podemos ter pequenos recantos e esquinas arborizadas em qualquer bairro.


O sr. mora numa rua sem saída de Perdizes. Quais os benefícios de se viver numa via assim?

Há 55 anos, moro numa rua muito feliz. Assim que me mudei, fui plantar árvores na rua. Plantei várias sem pedir licença para a prefeitura. Foi um ato de transgressão cidadã [risos]. Na época, havia muitas crianças que jogavam bola e brincavam na rua. Nesse ambiente de rua fechada, cria-se uma comunidade.


De qual trabalho mais se orgulha?

Sempre me emocionou muito a reurbanização do Pateo do Collegio [em 1974], no centro. Eu não tinha nascido aqui, era um imigrante e tive a honra de reurbanizar
o local de fundação da cidade.

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