“Cidades roubam a cena na Rio+20”, artigo de Milton Jung, Época São Paulo

O documento mais importante da Rio+20 até aqui não foi aquele sobre o qual os chefes de Estado se esforçam para aprovar o máximo possível de frases sem efeito, mas o apresentado pelas 59 cidades que integram o C-40, organismo do qual São Paulo faz parte, inclusive tendo recebido seus integrantes no ano passado. Assumiu-se publicamente o compromisso de reduzir a emissão dos gases de efeito estufa em 248 milhões de toneladas até 2020 e de 1,3 bilhões de toneladas até 2030. Para que se tenha ideia da dimensão destas metas, seria como eliminar por um ano todas as emissões de México e Canadá juntos. Estas cidades terão um enorme desafio pela frente para não frustrar as expectativas proporcionadas pelo acordo, haja vista que abrigam em torno de 544 milhões de pessoas e são responsáveis, hoje, por 14% das emissões dos gases causadores do efeito estufa.

Apesar de receber com otimismo a boa intenção dos prefeitos, procuro não me iludir com os discursos e fotos entusiasmadas que se revelam neste momento. A cidade de São Paulo que havia se disposto a reduzir em 30% as emissões até o fim deste ano, chegou a 10% de acordo com informação do próprio prefeito Gilberto Kassab (PSD) em entrevista à rádio CBN. Bem verdade que avançamos muito em algumas áreas e temos iniciativas interessantes como a instalação de usinas de biogás nos aterros sanitários Bandeirantes e São João, onde durante anos depositamos o lixo que produzimos. A inspeção veicular, criticada por muitos, deve ser colocada nesta conta, também, pelo impacto que o controle sobre a emissão de gases dos automóveis têm no meio ambiente, mesmo com o crescimento da frota.

Se alguém ainda tem dúvidas sobre a urgência da implementação de medidas de combate a poluição, termino esta conversa lembrando entrevista desta semana, na qual conversei com o pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Afonso de André. Ele calcula que teríamos evitado 14 mil mortes se o Brasil tivesse cumprido no prazo as etapas do Proconve – Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores que prevê a produção de diesel mais limpo.

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