Índice de valores humanos visa influenciar políticas públicas e cidadãos

 

Lançado pelo PNUD nesta terça-feira (10/8), novo indicador se baseia nas vivências positivas e negativas das pessoas com saúde, educação e trabalho 

Airton Goes airton@isps.org.br

Na última vez que esteve no médico, posto de saúde ou hospital, você sentiu que o tempo de espera foi muito demorado, normal, razoável ou rápido? Você achou que a linguagem usada pelos médicos e enfermeiros foi muito difícil, um pouco difícil, normal ou fácil de entender? As respostas dos cidadãos a perguntas como estas formam a base de um novo indicador que visa medir o bem-estar das pessoas e a qualidade das políticas públicas: o Índice de Valores Humanos (IVH).

Lançado nesta terça-feira (10/8), pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o novo indicador foi construído a partir das repostas das pessoas sobre as suas vivências positivas ou negativas em relação à saúde, à educação e ao trabalho. Neste primeiro levantamento apresentado, foram ouvidas 2.002 pessoas em diversas regiões do país.

De acordo com os resultados da pesquisa, aplicada pelo Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, as regiões Sul e Sudeste do Brasil são as que apresentam os maiores IVH, com 0,62, seguidas pelo Centro-Oeste, com 0,58. O Nordeste (0,56) e o Norte (0,50) têm os valores menores. A média do país é 0,59 – quanto mais próximo de 1 mais positivas são as vivências das pessoas entrevistadas em relação aos itens perguntados.

O PNUD entende que o IVH menor no Norte se deve, em grande parte, aos problemas do sistema de saúde: o índice de valores humanos ligado à saúde (IVH-S) na região, onde os moradores demoram muito para ver um médico, é de apenas 0,31, valor 0,14 pontos inferior à média nacional. Já a região Sudeste apresenta a melhor avaliação de valores na área: 0,51.

Para Flávio Comim, economista-chefe do PNUD Brasil e coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano Brasileiro 2009/2010, o que menos importa é comparar os dados do IVH por região. Ele considera que o importante é verificar as medidas que podem ser tomadas pelos governos e as pessoas envolvidas com o atendimento à saúde, com a educação e o trabalho para tornar as vivências positivas. “O IVH tem embutido a ideia de um atendimento mais humano na saúde”, exemplifica.

No caso do índice relacionado à Educação (IVH-E), Comim avalia que as escolas precisam ser um lugar onde as pessoas tenham interesse de ir. “É preciso tornar o espaço [das escolas] mais atraente para os jovens”, recomenda.

O economista-chefe do PNUD no Brasil explica que o IVH “é um indicador complementar do IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] e está ligado aos processos. “A qualidade da Educação depende muito do processo, de que os alunos estejam motivados, de que as famílias estimulem os alunos, dos professores”, detalha.

Na opinião de Comim, o PIB (Produto Interno Produto) irá morrer como indicador de desenvolvimento. “O século passado foi o século da quantidade. Neste século, estamos perguntando como você está vivendo. Estamos em busca da qualidade dos processos.” Questionado se o IVH um dia poderá ser amplamente utilizado como indicador de bem-estar, ele diz não saber. “O que estamos procurando fazer é estabelecer uma discussão sobre como os valores podem influenciar as políticas públicas”, conclui.

O IVH foi criado pelo PNUD inicialmente no Brasil – segundo os organizadores, não foi baseado em nenhum indicador existente em outro país – e integra o terceiro caderno do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) Brasil 2009/2010.

Veja a íntegra do documento com o novo indicador lançado pelo PNUD 

 

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