“Convívio público é mal avaliado em S. Paulo” – O Estado de S.Paulo

 

57% dos entrevistados gostariam de deixar a capital, se pudessem

Renato Machado

Os paulistanos avaliam que os pontos positivos para o bem-estar estão ligados principalmente ao seu mundo particular, em detrimento do convívio público. Pesquisa Ibope encomendada pelo Movimento Nossa São Paulo levantou o grau de satisfação dos moradores da capital em relação a 170 itens (em 25 áreas), com notas de 1 a 10. Com exceção de uma área – a tecnologia da informação (nota 6)-, as que foram mais bem avaliadas são todas ligadas aos próprios indivíduos: relações humanas (6,5), religião e espiritualidade (6,3), trabalho (6,2) e sexualidade (5,4).

Por outro lado, receberam as piores notas as questões ligadas aos aspectos sociais e de responsabilidade dos poderes públicos. A pior avaliação foi para a questão de transparência e de participação dos assuntos ligados à população (nota 3,3). "São questões que estão tão distantes que as pessoas nem sabem como participar ou acompanhar as informações. Por isso avaliam mal", diz um dos coordenadores do Movimento Nossa São Paulo, Maurício Broinizi Pereira.

Na sequência aparecem problemas mais conhecidos da população, como a desigualdade social (3,9), falta de assistência social (3,9), trânsito e transporte (4) e acessibilidade para pessoas com deficiência (4,2). No geral, os paulistanos deram nota 4,8 para a cidade e 87% a consideram um lugar inseguro para se viver.

"Essa insatisfação se refere àquilo que as pessoas consideram fundamental para sua qualidade de vida, como educação, transporte, saúde. São dados preocupantes e que esperamos que sirvam de alerta", diz outro coordenador do Movimento Nossa São Paulo, Oded Grajew.

A baixa avaliação das questões públicas reverbera em outra questão. Em relação ao último levantamento, aumentou de 46% para 57% o número de entrevistados que deixaria a capital paulista, se pudesse. Vale ressaltar que a pesquisa foi feita entre os dias 2 e 16 de dezembro, após medidas impopulares tomadas pelo poder público, como a revisão nos valores do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), e em meio a enchentes, como a do dia 8 daquele mês, em que houve transbordamento nas Marginais do Tietê e do Pinheiros. Foram ouvidas 1.512 pessoas.

Medo de Alagamento

A pesquisa apontou que aumentou de 6% para 28% a quantidade de pessoas que temem os alagamentos. Outros fatores que provocam receio nos paulistanos são a segurança e o trânsito. No primeiro caso, foi constatado um aumento de 57% para 65% de pessoas que temem assaltos e roubos, de 17% para 26% de quem receia sair à noite e de 6% para 11% dentre os que se sentem inseguros com as torcidas de futebol. Também subiu de 16% para 18% os que temem o trânsito, de 7% para 13% de quem receia por atropelamentos e de 2% para 5% os que têm medo de dirigir.

Um dos pontos também pesquisados é sobre a atual qualidade de vida dos paulistanos. A maior parte das respostas (45%) aponta que "ficou estável". "Mas isso não necessariamente é algo bom. Se confrontarmos com o dado da avaliação média da cidade, de 4,8, é um índice baixo. Então vemos que se manteve um indicador que não é positivo", diz a diretora executiva do Ibope, Márcia Cavallari. "A pesquisa anterior foi feita logo após as eleições municipais, então o clima na cidade era outro. Agora, a população está convivendo com enchentes."

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