Preço da terra é o principal chamariz na expansão da pecuária bovina na Amazônia

 

Foto: Tatiana Cardeal
Foto: Tatiana Cardeal

 

Por Andressa Besseler, da Agência Envolverde

Nos últimos 30 anos, aumentou descontroladamente o processo de ocupação na Amazônia. O ápice ocorreu durante o regime militar, com a ajuda do governo federal financiando, através da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), a pecuária extensiva na região e milhares de hectares de florestas transformados em pasto.

O alerta foi feito por André Muggiatti, do Greenpeace, durante o Seminário Conexões Sustentáveis: São Paulo x Amazônia, ontem (14/10), em São Paulo.

Com o objetivo de entender como a cidade de São Paulo pode causar impactos na floresta amazônica, Muggiatti apresentou informações sobre o uso da terra na Amazônia Legal.

Numa sinopse recheada de dados, ele relembrou que o desmatamento na Amazônia começou na etapa colonial com a sesmaria, sistema agrário-mercantil. “Nas décadas de 70 e 80 foram criadas condições para a ocupação da região com abertura de estradas, estímulo à migração, estímulo estatal e pecuário, condições para o estabelecimento de cultura de grãos no cerrado e o surgimento do Proálcool”, explica ele.

Dados de um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), constata que 86% do desmatamento estão no máximo há 25 quilômetros da região amazônica.

Pecuária na Amazônia

No contexto atual, o Brasil está posicionado como o maior rebanho de gado do mundo. O país consome 75% da carne que produz e 25% da produção é destinada às exportações. “O brasileiro ocupa o segundo posto de consumo per capita de carne. Só perde para Argentina. É uma cultura arraigada desde o século XIX e precisa ser combatida para reduzir os impactos na Amazônia”, ressalta Muggiatti.

Para ter uma noção da realidade trágica, entre 2003 e 2006 o rebanho bovino cresceu 10 milhões. Sendo que 96% desse crescimento ocorreu na Amazônia Legal. “Nesta região, os abatedouros que portavam o Serviço de Inspeção Federal (SIF) no ano de 2004 eram 27. Já em 2007 o número saltou para 87”, conta ele.

Um dos principais problemas apontados pelo Greenpeace na expansão da pecuária predatória na Amazônia é o preço da terra. Cada hectare custa R$250. Para os produtores de grãos o valor sobe um pouco mais.

Outros fatores apontados pela instituição foram: aumento da produção das commodities no Sul do país; aumento da demanda mundial e nacional por carne, e o fato da região amazônica ter linhas de crédito bancários privados que investem no setor R$ 5 bilhões por ano.

Para André Muggiatti uma das soluções para reduzir o avassalador processo predatório na Amazônia seria a criação de algo como o PAC (Programa da Aceleração do Crescimento) só que relacionado à Conservação. “Temos que realizar uma nova avaliação de diversas medidas adotadas pelo governo, como rever o Conselho Monetário Nacional que concede crédito a infratores ambientais, diminuir a grilagem, regularizando até 10 módulos mínimos (corresponde a mil hectares) e protestos contra o Projeto Floresta Zero (PL 6.424 de 2005)”, afirma ele.

A idéia do Greenpeace é zerar o desmatamento na Amazônia e em outras florestas tropicais até 2015, aliando desenvolvimento, uso responsável dos recursos naturais e conservação da biodiversidade.

*A cobertura do evento foi realizada em conjunto pelo Movimento Nossa São Paulo, Mercado Ético e Envolverde, sob a coordenação de Naná Prado.

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