“Renovação da Câmara é cada vez menor, aponta estudioso” – Folha de S.Paulo

 

Cientista político mostra que eleição de novos vereadores caiu de 72,7% para 52,7%

Decisão de permanecer na Casa vem do afunilamento da carreira política; há 6.248 vagas de vereador em SP, e só 94 de deputado estadual

MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO

A taxa de renovação dos vereadores paulistanos, embora alta, vem caindo paulatinamente (de 72,7%, em 1982, para 52,7%, em 2004), o que transparece no aumento da idade média dos legisladores (de 44 anos, em 1983, para 50, em 2005), observa o cientista político Rui Tavares Maluf, 49, em sua tese de doutorado "A carreira política na Câmara Municipal de São Paulo" (2006).

"Penso que essa é uma tendência", diz Tavares Maluf, que é professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. O principal fator que explica o aumento da taxa de permanência dos vereadores é o afunilamento da carreira política: existem 6.248 vagas de vereador no Estado, contra apenas 94 de deputado estadual e 70 de federal.

Por isso, diz ele, a permanência do político na Câmara não decorre "propriamente de uma opção, mas de uma decisão racional em face do grau de dificuldade para a obtenção de outros cargos: o vereador mais antigo, Jooji Hato (PMDB), com seis mandatos consecutivos como titular, foi quase sempre candidato para outros cargos, ainda que sem sucesso".

Ele constata que a grande diferença entre os vereadores que permanecem e aqueles que estão na Câmara só de passagem reside na distribuição territorial dos votos: os primeiros têm uma votação mais concentrada em alguns distritos, enquanto os últimos apresentam uma votação mais dispersa.

"O vereador permanente é alguém que vai construindo relações em determinada área da cidade. Com o passar dos anos, esta área passa a fazer alguma diferença quando comparada às demais, até porque o território da cidade é muito grande."

Essa concentração de votos dos vereadores permanentes ajuda a entender por que eles dificilmente são eleitos prefeitos: "O Executivo paulistano está mais ajustado à dimensão cosmopolita de São Paulo, enquanto a Câmara está pautada por ações mais centrífugas e paroquiais. Apesar das dificuldades, alguns prefeitos começaram sua carreira como vereadores -Jânio Quadros, Luiza Erundina, Gilberto Kassab-, mas com passagens por outros cargos antes de disputarem o Executivo municipal. Soninha Francine está procurando fazer a passagem diretamente, embora não conseguirá".

Segundo o cientista político, outra dificuldade para um vereador ser eleito prefeito reside, "por incrível que pareça", no fato de que "a atividade parlamentar municipal da megacidade São Paulo não tem visibilidade. Há enorme assimetria na cobertura feita pela imprensa entre os poderes municipais. A cobertura se dá pautada pela crise e pelo negativo: a cobertura do cotidiano tende a ser vista como maçante, burocrática".

Além disso, "os próprios segmentos da cidade que minimamente se importam com a vida pública não enxergam na Câmara uma instituição que realmente afete a suas vidas".

Tavares Maluf destaca também a importância das relações familiares na política local: "Os parentes trabalham diretamente com os vereadores, ou em seus escritórios, sendo aos poucos preparados para substituí-los ou serem candidatos a outros postos (caso dos Tatto, dos Tripoli, dos Calvo etc.)".

Segundo o estudioso, na política municipal, mesmo de uma metrópole, "as relações são mais personalizadas, e os partidos políticos, ainda mais frágeis do que no plano federal. Assim, a família substitui parcialmente a organização partidária".

Por essa razão, sustenta ele, reduzir o papel da família na política à questão do nepotismo conduz a um estreitamento do debate: "A luta pela transparência da vida pública não será alcançada proibindo parentes de se candidatarem ou estarem em cargos de confiança".

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