Uma cidade aprendendo a ler


Luiz Prado**

Em Cidade Tiradentes, o maior complexo de conjuntos habitacionais da América Latina, a leitura chega a passos tímidos. Sem uma única biblioteca pública para os 254 mil habitantes do distrito, ler significa recorrer aos recentes Pontos de Leitura, aos acervos de ONGs e às salas de leitura de escolas do CEU Água Azul.

De acordo com dados do site Observatório Cidadão, do Movimento Nossa São Paulo, Cidade Tiradentes é um dos cinco distritos paulistanos que não possui bibliotecas públicas. Junto com Cidade Ademar, M’Boi Mirim, Parelheiros e São Mateus, o bairro dormitório só agora começa a dar os primeiros passos no campo das letras.

Segundo informações da Secretaria Municipal de Cultura, os Pontos de Leitura André Vital, Juscelino Kubitschek e Parque do Rodeio, instalados em 2006, oferecem ao público acervo de 7.060 títulos, entre livros, jornais e revistas. Isso significa 0,03 publicação por morador da Cidade Tiradentes.

No Ponto de Leitura André Vital, que recebe média de sete visitas diárias, publicações bem requisitadas são os jornais. “As pessoas vêm procurar o Diário de S. Paulo e o Concursos e Empregos”, diz Nair Oliveira, agente de apoio do Ponto de Leitura. Nair também destaca a presença de crianças e adolescentes que vão ao ponto em busca de material para trabalhos escolares. Mas os sucessos de procura, segunda a agente, são os romances espíritas de Zíbia Gasparetto, que não existem por lá.

Alternativas mais baratas para as bibliotecas públicas, os Pontos de Leitura aumentam seus acervos com doações da Secretaria de Cultura e de particulares. “A gente está esperando a secretaria vir aqui para colocar nas prateleiras 700 livros”, afirma Nair. Quando os espaços físicos, de cerca de 50m², se tornam pequenos para o volume de doações, elas são repassadas para outras entidades.

Uma dessas entidades é o Instituto Pombas Urbanas, criado em 1989 a partir de um projeto de formação em dramaturgia com adolescentes, idealizado por Lino Rojas. Dentre diversas atividades desenvolvidas no instituto existe a biblioteca comunitária Milton José Assumpção, detentora de um acervo de 4 mil volumes. Além disso, o Pombas Urbanas conta também com o projeto de letramento Canto das Letras, vencedor regional do prêmio Itaú Unicef 2007, voltado para crianças das 3ª e 4ª séries do ensino fundamental.

Com 24 anos de existência, a Cidade Tiradentes só recentemente começou a receber atenção dos poderes públicos em relação à cultura. No CEU Água Azul, a implantação de uma biblioteca está em fase final. De acordo com Ângela Thalassa, coordenadora do Núcleo de Cultura, o processo estará concluído até final de abril. Enquanto isso, os livros podem ser encontrados nas salas de leitura das escolas do CEU. Segundo Ângela, a questão cultural está na pauta das políticas do distrito. “Temos reunião agendada para fazer um levantamento da cultura na Cidade Tiradentes”, afirma.

Mobilização

No levantamento feito pelo Observatório Cidadão, Cidade Tiradentes aparece como o distrito paulistano com os piores indicadores de políticas públicas no campo da cultura. Além de não possuir uma única biblioteca, também não conta com nenhum centro cultural, cinema, sala de concerto ou teatro.

Abordando temas que vão de transportes à saúde, o Observatório Cidadão  disponibiliza números sobre diversas áreas de atuação governamental nos 31 distritos paulistanos. Através da divulgação dessas informações, o Movimento Nossa São Paulo espera que a sociedade se mobilize para reivindicar uma nova forma de se pensar a cidade e seu desenvolvimento. “Nós não vamos fazer políticas públicas.

Com participação do SESC, teatros amadores e militantes da cultura popular o movimento estruturou o Grupo de Trabalho de Cultura, responsável por pensar especificamente nos aspectos culturais da cidade. Partindo da idéia de que cada um dos distritos de São Paulo apresenta características singulares, o Nossa São Paulo defende a regionalização das demandas como estratégia de atuação. “Nossa idéia é que cada distrito tenha cada vez mais autonomia para satisfazer as necessidades da população”, diz Maurício Broinizi, secretário-executivo do Movimento Nossa São Paulo.
Broinizi.

** Luiz Pradoé estudante de jornalismo e escreveu a reportagem para o Projeto Repórter do Futuro, da Oboré.

 

 

Compartilhe este artigo