Desigualdade é vista como principal fator de prejuízo à saúde mental da população negra

Pesquisa sobre relações raciais revela que 49% dos paulistanos concordam que dificuldades de acesso à renda, educação e saúde podem desencadear ou agravar problemas de saúde mental

A edição de 2021 da pesquisa “Viver em São Paulo: Relações Raciais” traz dados sobre a percepção da população paulistana em relação ao racismo e as consequências da discriminação no cotidiano da população negra na cidade. O levantamento é realizado pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ipec – Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica.

Confira a apresentação da pesquisa

Confira a pesquisa completa

As medidas que ajudam a combater o racismo na cidade, a percepção acerca do papel das empresas, instituições e pessoas brancas em casos de discriminação e as consequências sociais e políticas da desigualdade racial. Estas são algumas das questões abordadas na pesquisa, realizada em série temática desde 2018. Edições anteriores

O lançamento da pesquisa aconteceu durante um debate online, e contou com a presença da secretária municipal de cultura de São Paulo, Aline Torres. Ela destacou a baixa representatividade da população negra no meio político e em cargos eletivos no Brasil, o papel dos não-negros na pauta e o potencial da cultura no combate ao racismo.

Discriminação na cidade

Houve queda leve na percepção do preconceito em espaços como shoppings e comércios em relação ao ano anterior, quando havia sido notada uma subida elevada nos números, em comparação aos de 2019. Em seis, dos oito locais avaliados, prevalece a percepção da maioria da população de que há diferença no tratamento de pessoas negras e pessoas brancas e, em todos os locais, os que se autodeclaram pretos e pardos continuam tendo uma percepção mais acentuada sobre a diferença de tratamento, com destaque para hospitais e postos de saúde.

Alguns indicadores apontam que as pessoas estão esperando medidas mais práticas de combate à violência e responsabilização das pessoas brancas, entendendo que o problema racial é uma questão para toda a sociedade. Se informar mais e se educar sobre o assunto segue a opção mais citada quanto ao papel das pessoas brancas no combate ao racismo (56% dos pretos e pardos, subindo 7 pontos em relação ao ano anterior), seguida de intervenção em situações de tratamento diferenciados entre brancos e negros (44% da população total).

Participar de protestos (físicos ou online) é a opção que apresenta maior queda quando comparado a 2020, passando a ser visto por menos gente como uma ação válida de combate ao racismo. Se reconhecer como parte do problema também cai de forma acentuada (53%, versus 47% de 2020). De forma geral, há destaque para um maior auto responsabilização e percepção da discriminação na Zona Oeste e central.

Cai também a visão de que punições à policiais que são violentos com pessoas negras podem apoiar na redução do preconceito, o que pode indicar um melhor entendimento por parte da população sobre as complexidades que envolvem o racismo estrutural no Brasil. Já o aumento da punição por injúria racial e o debate sobre o tema nas escolas apareceram como as medidas que mais contribuem para o combate do racismo na cidade de São Paulo.

O papel de empresas

Apenas 8% dos entrevistados não declararam alguma medida que as empresas deveriam adotar para assegurar um ambiente de trabalho sem racismo. Ou seja, praticamente 92% da população paulistana afirma que as empresas devem prevenir e assegurar um ambiente de trabalho sem racismo. Ao mesmo tempo, 86% da população geral entende que o racismo prejudica o desenvolvimento da cidade.

Posicionar-se contra qualquer tipo de preconceito racial é a medida mais eficaz que uma empresa pode adotar para assegurar um ambiente de trabalho sem racismo para 46% da população total, chegando aos 61% na zona oeste da cidade. Ter canais próprios de denúncia é mais citado por pretos e pardos do que pelos brancos, enquanto ter protocolos e políticas institucionais para dar encaminhamento aos casos foi a medida menos apontada, por 46% do total de entrevistados.

Saúde mental e qualidade de vida

A desigualdade social (acesso a renda, trabalho, educação, moradia, saúde etc.) é o fator que mais contribui para desencadear ou agravar problemas de saúde mental na população negra para 49% da população. Em seguida, afetam a saúde mental da população negra, o medo constante de sofrer abuso/ violência policial (para 45%) e o medo constante de sofrer discriminação ou preconceito racial e não saber como lidar (para 42%)

Para 47% dos paulistanos a pandemia também teve um impacto maior sobre o trabalho e a capacidade de gerar renda das pessoas negras, em relação às brancas, um indicador que sintetiza desigualdades históricas da cidade. A concentração de serviços e postos de trabalho em regiões de maior renda, os desafios da mobilidade urbana e de acesso às oportunidades da cidade contribuem para para agravar e manter as diferenças sociais que sustentam o racismo. 

Dados do Mapa da Desigualdade de São Paulo 2021 indicam que, enquanto a Sé é o distrito com maior taxa de oferta de emprego formal (112), o desigualtômetro em relação ao distrito de Iguatemi é de 290x, onde estão os piores números do indicador na cidade.

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