MPE: não há plano B para o Cantareira

Por Ricardo Osman

O promotor do Ministério Público Estadual, Rodrigo Sanches Garcia, integrante do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema), estuda diariamente gráficos e dados sobre o nível da água no Sistema Cantareira. O que ele vem observando nestes relatórios já permite dizer que o pior poderá vir em 2015 em termos de abastecimento de água para São Paulo.

"Não há plano B para o Sistema Cantareira a curto prazo. A situação atual é crítica, mas ainda há o volume morto. Mas ninguém sabe como ficará em 2015. A alternativa é chover e chover, porque não há como abastecer São Paulo com carro-pipa."

A cidade está nas mãos de São Pedro. Segundo o promotor, é preciso chover, em um período que vai de setembro próximo a fevereiro de 2015. Tem de ser o suficiente para recuperar o volume morto do Cantareira e garantir ainda uma reserva mínima de água para a estiagem dos meses seguintes. Alguns especialistas falam em um mínimo de 30%. Entretanto, nenhum serviço de meteorologia pode apostar no que há pela frente.

As chuvas na região são fundamentais para ampliar "as vazões afluentes" do Sistema Cantareira. Essas vazões formam o volume total de água que os rios despejam na reserva do Cantareira. Garcia tem em seu computador medições diárias por meio do Grupo Técnico de Assessoramento para Gestão do Cantareira. As medições começaram em 1930.

"Estamos vivendo a pior crise dos últimos 84 anos", disse ele. Depois deste terrível 2014, os piores anos foram 1953 e 1954. Mas os dados de agora fazem o início da década de 1950 parecer um mar de rosas. Um exemplo: "relações entre vazões médias mensais do ano e a de longo termo: agosto de 1953, 66,1%, e agosto de 2014, 29,5%."

O promotor não tem dúvida de que "houve má gestão do Sistema Cantareira" em 2014. "Foram desconsideradas nossas recomendações", disse ele, exibindo documento de 3 de fevereiro de 2014 endereçado, entre outros, à Agência Nacional de Águas (ANA) que aponta medidas imediatas e preventivas do Ministério Público para o racionamento de água. O próprio Boletim de Monitoramento dos Reservatórios do Sistema Cantareira, da ANA, de janeiro de 2014, já falava da necessidade de "racionamento".

Interior – A falta de água obrigou a prefeitura de Tambaú (SP) a decretar calamidade no município e suspender temporariamente o fornecimento. Ontem, o governo federal lançou o Programa Nacional de Segurança Hídrica (PNSH), que visa garantir abastecimento de água para cidadãos e produtores, inclusive em tempos de seca.

O presidente da ANA, Vicente Andreu, disse que a escassez de água em São Paulo poderia ser melhor enfrentada se houvesse investimento na redundância de reservatórios. "Isso é fundamental para a segurança hídrica em períodos de incerteza", afirmou.

Matéria originalmente publicada no jornal Diário do Comércio

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