Moradores de SP cuidam de praças com verba própria

Na cidade, 112 pessoas gastam até R$ 600 ao mês com áreas verdes. Na zona leste da capital, engenheiro organizou grupo que restaurou postes de iluminação da década de 1940.

Por Jairo Marques

Em São Paulo, existem 112 pessoas que tiram até R$ 600 por mês do próprio bolso para que jardins, praças e demais áreas verdes públicas da cidade fiquem bem cuidadas, limpas e vivas.

Ao todo, entre pessoas físicas, empresas, entidades e grupos organizados, a capital tem 550 adotantes para 5.000 áreas verdes.

A zona oeste concentra a maioria das pessoas físicas que se dispõem a arcar com as despesas de locais de responsabilidade da prefeitura: 86. É lá onde fica a praça Antonio Nunes Siqueira, em Pinheiros, de responsabilidade do administrador Marco Antonio Braga, 50,

"Sempre gostei muito de plantas, de jardins. Para mim, cuidar da praça é um prazer. Gasto cerca de R$ 600 por mês, mas a receptividade das pessoas à iniciativa é muito grande. Todos acabam querendo ajudar a manter o local bonito", diz.

Para adotar uma área e ter o direito de colocar nela uma ou mais placas –dependendo do tamanho do local– com seu nome, é preciso vencer um trâmite burocrático.

De acordo com a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, primeiro é preciso ser feita uma "uma carta de intenção, um projeto de intervenção e conservação do local de interesse e entregar cópias de documentos de identificação".

Depois disso, é necessário esperar a publicação do pedido no "Diário Oficial" e a avaliação da subprefeitura mais próxima, que vai fiscalizar a conservação e dar suporte técnico aos serviços.

Árvores

Na praça Conceição Aparecida de Souza Aguiar, no Mandaqui, zona norte, quem paga pela iluminação, manutenção e até pela água que rega o jardim e as árvores septuagenárias do local é a dona de casa Regina Célia dos Santos Souza,42.

"Gasto cerca de R$ 200 por mês. Mas há cerca de nove anos investi R$ 4.000 para dar uma boa arrumada no terreno. É um imenso desafio manter limpo e fazer com que as pessoas entendam que é preciso zelar e não destruir."

Regina conta com a ajuda de um jardineiro, mas é ela mesma quem varre a praça. Ela fez calçada nova, plantou grama e se indispõe com vizinhos por causa de entulhos.

"É preciso ajudar a cidade a ser melhor. Mas eu também cobro da prefeitura para que ajude fazendo a parte dela na conservação de lixeiras e podando árvores."

Moradores da Vila Zelina, na zona leste, aproveitaram a adoção de uma área verde para homenagear a comunidade que ajudou a povoar e desenvolver o bairro, imigrantes do leste europeu.

Há dois anos, um grupo liderado pelo engenheiro Victor Gers Júnior, 49, adotante oficial do local, faz melhorias na Praça Imigrante do Leste Europeu. "Todos se beneficiam com um lugar bonito. Aqui, crianças brincam, idosos se reúnem e pessoas passeiam com cachorro".

Três postes de iluminação antigos, da década de 1940, foram restaurados e colocados na praça. Neste ano, o local recebe uma exposição de fotos antigas de imigrantes.

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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