Algas ameaçam capacidade de produção da Guarapiranga

Apontada como uma das soluções para a crise hídrica da Grande São Paulo, represa tem cerca de 3 km da vegetação

Por Bruno Ribeiro

Apontada ontem por Dilma Pena, presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), como uma das possíveis fontes de água para a Região Metropolitana de São Paulo, a Represa do Guarapiranga, na zona sul da capital, tem atualmente uma aglomeração de cerca de 3 quilômetros de algas.

Para especialistas, a vegetação pode dificultar a produção de água potável por demandar mais tempo de tratamento, o que comprometeria o abastecimento das áreas antes atendidas pelo Cantareira.

A Sabesp informou que, independentemente de custos e técnicas, garante a qualidade da água do reservatório.

As algas na represa, fenômeno antigo, datado de meados dos anos 1990, crescem por causa do sol e dos coliformes despejados na água. Mas nunca houve tantas algas, segundo Alberto Santos, gerente do Yatch Club Santo Amaro, que fica às margens da Guarapiranga. "Vemos frequentemente lixo preso às plantas, que chegam com o esgoto", contou Santos.

A proposta da Sabesp é aumentar a transferência de parte da água dos Sistemas Guarapiranga e Alto Tietê para o Cantareira, principal fornecedor da Grande São Paulo, que está com os piores níveis da história.

A Guarapiranga já abastece 19,5% dos domicílios da região. Com a intensificação da crise hídrica no início deste ano, cerca de 400 mil domicílios que antes eram atendidos pelo Cantareira passaram a receber água do Guarapiranga, segundo informações da Sabesp.

Toxinas

A vegetação pode trazer problemas à saúde. "As algas presentes na Represa do Guarapiranga, mais especificamente as cianobactérias, segundo registros em literatura, são potencialmente produtoras de toxinas que afetam a biota aquática (conjuntos de seres) e também podem acarretar problemas de saúde na população humana. Essas toxinas ficam dissolvidas na água", disse a pós-doutora em Biologia Maria do Carmo Bittencourt-Oliveira, professora da Universidade de São Paulo (USP).

Ela afirmou, no entanto, que o tratamento correto da água pode mantê-la potável. "Se há um tratamento adequado da água bruta, as toxinas podem ser retidas em filtros de carvão ativado. Dessa forma, a água poderá ser servida à população se adequadamente tratada." O processo exige gastos maiores. "Quanto mais toxina na água, mais eficiente deverá ser o tratamento e mais recursos serão gastos", disse Maria do Carmo.

O ambientalista Carlos Bocuhy, membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), faz outra ressalva. "O tratamento que tem sido feito ali é com controle químico das algas, algo que não é regulamentado pelo Conama. É um voo cego", disse, referindo-se à falta de parâmetros sobre o uso dos agrotóxicos lançados na água.

Bocuhy afirmou que o processo de tratamento da água nesse caso exige mais tempo, o que diminui a capacidade de produção. "A Sabesp foi transformada em uma empresa para dar lucro e os investimentos no tratamento do esgoto não foram feitos. Assim, a qualidade da água caiu, e as algas aumentaram."

Qualidade

Em nota, a Sabesp informou que "a qualidade da água distribuída respeita todos os padrões da Portaria 2.914/11, do Ministério da Saúde. O controle de qualidade da Sabesp é um dos melhores do mundo". A assessoria de imprensa da empresa afirmou que, quaisquer que fossem os custos e a técnica necessária, a água com as algas seria tratada para evitar riscos à população.

Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo

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