Futuro Plano Diretor deve contribuir para reduzir as desigualdades da cidade

Mensagem foi dada pela sociedade em evento promovido pela Rede Nossa São Paulo. No debate, que contou com a participação do poder público, foi apresentado o Mapa da Desigualdade e lido um manifesto

Airton Goes airton@isps.org.br 

Dos 96 distritos da capital paulista, 60 não têm um centro cultural, 38 não possuem parque e seis não apresentam um equipamento esportivo sequer. Esses foram alguns dos dados atualizados do Mapa da Desigualdade, que foram divulgados nesta sexta-feira (7/6) em evento realizado pela Rede Nossa São Paulo.

O objetivo do encontro, denominado “O combate à desigualdade e o novo Plano Diretor de São Paulo”, foi chamar a atenção do poder público e também da sociedade para a necessidade de se colocar a redução das desigualdades existentes na cidade no centro dos debates e das diretrizes do futuro PDE (Plano Diretor Estratégico).

De acordo com os dados atualizados do Mapa da Desigualdade, apresentados pelo coordenador da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo, Maurício Broinizi Pereira, o Distrito de Moema – localizado em uma das áreas nobres da cidade – possui o menor indicador de gravidez na adolescência (mães com 19 anos ou menos): 0,69%. Parelheiros, na periferia da Zona Sul, ostenta o pior índice, de 19,73%. A diferença entre o melhor e o pior indicador, que o estudo denomina de “desigualtômetro”, é de 28,59 vezes.

Outro exemplo relatado pelo estudo aponta que a o Distrito do Itaim Bibi, também do lado mais estruturado da metrópole, concentra 7,56% dos empregos da cidade. Já a região do Marsilac tem apenas 0,003% dos empregos.  Nesse caso, o desigualtômetro é de 2.520 vezes.

Clique aqui e confira a apresentação completa do Mapa da Desigualdade.

Após a apresentação dos dados, Oded Grajew, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, argumentou que o estudo aponta o caminho a ser percorrido por quem realmente quer combater as desigualdades existentes na cidade. “O mapa mostra as regiões onde são necessários os maiores investimentos e o que precisa ser feito para acabar com os zeros da cidade [em equipamentos públicos]”, afirmou ele, antes de complementar: “Sabemos o que deve ser feito, tudo é uma questão de escolhas”.

Durante o evento, Carmen Cecília de Souza Amaral, a Caci, do Grupo de Trabalho (GT) Democracia Participativa da Rede, leu o manifesto “Um Plano Diretor para reduzir as desigualdades em São Paulo”. O documento destaca que cada um dos 96 distritos da capital paulista tem, em média, mais de 110 mil habitantes, número maior que 95% das cidades brasileiras. “Em 20 deles, porém, não há um distrito policial”, denuncia o texto.

Para reduzir o quadro de desigualdades, o manifesto defende que o futuro Plano Diretor, entre outras diretrizes, priorize “investimentos e políticas públicas nos 29 distritos com os piores indicadores da cidade”.

Maria Lucia Refinetti Martins e Caio Santo Amore, professores de Arquitetura e integrantes do Laboratório de Habitação e Assentamentos Urbanos, contribuíram com o debate, apresentando sugestões para o futuro Plano. Uma delas prevê que os grandes empreendimentos produzam também habitações de interesse social.

Representantes do poder público

O prefeito Fernando Haddad não pôde comparecer ao evento e foi representado pelo secretário municipal de Governo, Antonio Donato. A mesma situação ocorreu com o presidente da Comissão de Política Urbana da Câmara Municipal, Andrea Matarazzo, que, entretanto, enviou carta aos organizadores. A mensagem foi lida publicamente por Oded Grajew.

Nabil Bonduki, vereador também integrante da Comissão de Política Urbana e relator do Plano Diretor em vigor, apresentou um estudo sobre o processo de revisão em curso. Para ele, a questão da desigualdade é fundamental. “É a discussão principal não só do Plano Diretor, mas da cidade”, avaliou. O parlamentar, porém, alertou que o plano é insuficiente para acabar com os problemas apontados.

Bonduki lembrou que as questões colocadas no evento já estavam postas em 2002, quando foi debatido e aprovado o plano em vigor. “Já tínhamos uma ideia clara da exclusão”, disse ele, mostrando alguns mapas de seu estudo.

O problema, segundo ele, é que a maior parte do que estava previsto no atual plano diretor foi feita “de forma muito insuficiente”.

Confira aqui a apresentação de Nabil Bonduki

Além de Bonduki, também compareceram ao evento os vereadores José Police Neto (PSD) e Ricardo Young (PPS). No debate, realizado no Sesc Consolação, os participantes puderam fazer perguntas por escrito aos convidados.

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