“Nunca nos sentimos tão inseguros” – Diário de S.Paulo

Nove em cada 10 paulistanos dizem estar pouco ou nada seguros na cidade onde morte pode vir fácil THAÍS NUNES/ PLÍNIO DELPHINO
plinio.delphino@diariosp.com.br

Com a foto do filho adolescente nas mãos, Patrícia Fernanda de Oliveira, 35 anos, chora. “O meu consolo é que ele foi o assassinado e não o assassino”, lamenta. Em uma edícula na periferia da Zona Leste, a mãe de Wallace Victor de Oliveira Souza, o rapaz de 16 anos executado por policiais militares no último domingo, desabafa pela primeira vez sobre sua dor. “Apesar de tudo, era um menino. Ele devia ter sido preso, não morto.”

O tudo a que Patrícia se refere são as cinco passagens por roubo  de Wallace. Pelos crimes, ficou apenas 18 dias na Fundação Casa, contra a vontade dos pais, que acreditam ser a melhor solução para o filho a internação. “O Estado não pôde recuperá-lo e o deixou na rua para ser morto nas mãos da polícia”, avalia a mãe.

O menor que rouba, os maus policiais que matam, os assassinatos sem resposta na periferia, os PMs executados em dia de folga. Essas são facetas de uma cidade onde 91% dos moradores se sentem pouco ou nada seguros, de acordo com pesquisa do Ibope feita a pedido da Rede Nossa São Paulo divulgada ontem.

O levantamento foi realizado entre 24 de novembro e 8 de dezembro do ano passado e ouviu 1.512 pessoas. Os paulistanos nunca se sentiram tão inseguros desde 2008, quando a pesquisa começou a ser feita. Outros itens do município também foram avaliados.

Para 42% dos entrevistados, a medida mais urgente no combate à violência é o controle da corrupção na polícia e nos presídios. O estudo aponta que o maior medo da população é a violência em geral (71%), seguido por roubo (63%) e sair à noite (41%).

CAUTELA/ O prefeito Fernando Haddad discursou após a divulgação da pesquisa e prometeu transparência na prestação de contas sobre o gargalo de investimentos do governo municipal, mas ponderou e pediu cautela nas expectativas da população. “A minha percepção, posso estar enganado, é de que as pessoas sabem que a solução dos problemas é difícil”, disse.

Questionada sobre os indicadores, a Secretaria da Segurança Pública alegou não comentar pesquisas feitas por outros órgãos por não conhecer a metodologia empregada. A pasta garante trabalhar para reverter o clima de insegurança na cidade.

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