“Cariocas desejam ter um Rio melhor em 2010” – O Globo

 

RIO – Como está o Rio de Janeiro? Em alguns setores, infelizmente, não muito bem, como mostraram indicadores e levantamentos feitos pelo Rio Como Vamos em 2009. Números de vítimas de trânsito que insistem em crescer em determinadas regiões; índices de homicídios e mortes em confronto com a polícia que se mantêm altos; deficiências nos transportes. Esses são alguns problemas que persistem na cidade, apesar dos esforços governamentais ou da sociedade civil. Na última reportagem do ano, o RCV revisita esses temas, mostrando dados mais recentes e as expectativas de quem atua nas respectivas áreas para que, em 2010, a situação se reverta e dias melhores venham por aí.

– Mostramos os indicadores da cidade para que esses números sirvam como alerta de que a prefeitura ou o governo do estado estão devendo políticas públicas eficientes em várias áreas. A população sabe, então, o que e onde cobrar. Tomara que no fim de 2010 possamos dizer: "No Rio, vamos bem, muito bem". Vai depender sobretudo de nós mesmos – afirma a presidente executiva do Rio Como Vamos, Rosiska Darcy de Oliveira, ressaltando a importância do envolvimento ativo da população nas iniciativas para tornar o Rio uma cidade melhor para todos.
Pesquisa mostra que cariocas estão mais otimistas

No que depender da torcida e da confiança dos cariocas, esses dias melhores virão nos próximos dez anos. Pesquisa de Percepção 2009 do RCV, elaborada pelo Ibope e que ouviu 1.358 pessoas, revelou que 52% dos entrevistados se mostraram otimistas ou muito otimistas para a próxima década no Rio de Janeiro. O otimismo foi pouco maior do que o revelado na pesquisa realizada um ano antes, quando 49% expressaram sua confiança num futuro mais favorável para a cidade. A entrevista mais recente foi feita em agosto, antes da escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016, não tendo sido, portanto, contaminadas pela onda de euforia com a vitória.

Entre os temas tratados pelo RCV em 2009, um chamou a atenção por revelar, por um lado, uma melhoria geral no problema mas, por outro, mostrar que ainda há muito o que fazer. Segundo levantamento com base em dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), o número de mortes no trânsito na cidade caiu 19,22% de janeiro a outubro de 2009, comparando-se com o mesmo período de 2008 (de 718 para 580). Dezoito regiões da cidade tiveram redução do número de vítimas. Já em Vigário Geral, Campo Grande, Jacarepaguá/Cidade de Deus, Pavuna, Penha/Complexo do Alemão e Tijuca, os números de óbitos cresceram, respectivamente, 38,89%, 32,5%, 21,88%, 16%, 11,76% e 5%.

População será desafiada a mudar de atitude no trânsito

Para o diretor da ONG Trânsito Amigo, Fernando Diniz, os números mostram que as autoridades precisam intensificar as fiscalizações, além de promover campanhas educativas permanentes, a partir da escola, e aplicar punições severas aos motoristas que dirigem de forma irresponsável. Ele afirma que a sociedade precisa refletir se está satisfeita com a violência no trânsito ou se está fazendo algo para melhorar. Se concluir que não, que mude sua atitude.

" Espero que em 2010 a sociedade venha aderir cada vez mais à Lei Seca e que possamos tirar os motoristas irresponsáveis das ruas "

– Espero que em 2010 a sociedade venha aderir cada vez mais à Lei Seca e que possamos tirar os motoristas irresponsáveis das ruas – afirma Diniz que, ano que vem, pretende lançar o desafio aos cariocas de antecipar, no Rio, a Década para a Segurança no Trânsito, movimento internacional apoiado pela Organização Mundial de Saúde e que pretende salvar cinco milhões de vidas entre 2011 e 2020 em todo o mundo.

E não é somente o trânsito que demanda esforços para salvar vidas. Os indicadores do RCV para 2009 mostraram que a cidade tem índices incômodos de homicídios (35,53 por 100 mil habitantes) e dos chamados autos de resistência (11,17 por 100 mil), mortes em confronto com a polícia. Os casos de bala perdida, embora em menor quantidade, se mostram na Pesquisa de Percepção o principal fator a despertar medo no carioca, apontado por 36% dos entrevistados. Para o diretor do Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos, Taiguara Souza, para que as situações de morte se revertam, é necessário um modelo de segurança pública que dê prioridade absoluta à defesa da vida.

– O único caminho para a redução da violência é o investimento maciço em políticas públicas que visem a diminuição da desigualdade social. É primordial que os governos invistam na promoção de direitos, especialmente nas comunidades pobres, visando a garantia de condições adequadas de trabalho, saúde, educação, moradia e cultura, e na humanização e treinamento adequado dos policiais. E a sociedade deve se organizar para lutar pelos seus direitos e denunciar eventuais violações – diz Taiguara Souza.

Para a presidente do RCV, o que está faltando no Rio é uma cultura cidadã:

– Um carro dirigido por um irresponsável é uma bala perdida. Quem não se interessa pela cidade e se queixa da violência ainda não percebeu que toda população tem a cidade que merece? 

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