“Assassinos e vítimas têm perfis semelhantes” – Jornal da Tarde

 

Josmar Jozino

O estudante Alexandre Andrade Reyes tinha 18 anos quando foi assassinado a tiros pelo comerciante Ismael Vieira da Silva, de 23 anos, após uma briga de trânsito na noite de 27 de maio do ano passado, no Jabaquara, zona sul de São Paulo. Ambos tinham algo em comum: se enquadravam na faixa etária de 18 a 25 anos. Jovens nessa faixa etária lideram, ao mesmo tempo, as estatísticas das vítimas de homicídio (33,6%) e de assassinos (40,8%). Apesar da redução nos homicídios, esse perfil não muda na capital desde 2003.

Também foi constatado que 55% dos assassinos identificados tinham antecedentes criminais e 73,9% das vítimas conheciam os matadores. Em 32,72% dos casos, os crimes ocorreram a menos de 500 metros da casa das vítimas e em 24,46%, na mesma distância da residência do bandido.

Esses números integram um estudo feito pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que analisou 327 inquéritos policiais de homicídios dolosos com autoria conhecida, entre 2006 e 2007 – em 2003, a mesma análise levou em conta 576 inquéritos. A pesquisa constatou que a zona sul continua a ser a mais violenta – com 39% dos assassinatos cometidos na área da 6ª Delegacia Seccional (Santo Amaro), responsável por 13 distritos policiais.

Segundo a pesquisa, também 39% dos assassinatos nos últimos dois anos ocorreram aos sábados e domingos – eram 36% em 2003. O dia com menor incidência continua a ser a terça-feira, com 8% dos assassinatos. A análise verificou ainda que 36% dos crimes foram cometidos das 18 horas às 23h59 – eram 45% há cinco anos.

O DHPP concluiu que 21,4% das mortes ocorreram por vingança. Depois aparecem motivo fúteis, com 20,2%; desavenças e brigas em bar ficaram com 8,9% e dívidas ou outros problemas relacionados a drogas com 6,7%. Em 66% dos casos, os assassinos usaram arma de fogo. Esse número era de 89% há cinco anos e caiu após as campanhas de desarmamento.

Os homens representaram a maioria das vítimas (85,9%); 52% eram brancos; 57,4% solteiros; 61,62% naturais de São Paulo; 46,7% tinham concluído o ensino fundamental; 22,73% ganhavam de 2 a 3 salários mínimos e 32,6% estavam desempregados. Já entre os assassinos identificados, 96,3% são homens; 49,2% pardos; 58,7%, solteiros; 65% naturais de SP; 51,4% têm o ensino fundamental e 40%, desempregados.

O coronel da reserva da PM e ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho, disse que o jovem é a principal vítima de homicídio porque se envolve mais em atividade de risco do que o adulto. “Eles são mais impulsivos, ousados, imaturos e excitáveis. Todo esse processo provoca uma a situação e a reação é fatal.”

De acordo com o coronel, não é apenas no Brasil que o jovem é a principal vítima de homicídio. Silva Filho disse que o quadro está mudando em SP, onde a taxa de homicídios dolosos cai ano a ano.

“Hoje, os homicídios culposos (sem intenção de matar) superam os dolosos. O perfil está mesmo mudando. Os acidentes de trânsito lideram as estatísticas. Isso quer dizer que não é mais o pobre da periferia que mata. É o jovem de classe média que dirige embriagado e desrespeita a cidadania.”

“O jovem não tem freio social. Além disso, está em pleno vigor físico, e, na maioria das vezes, promove a cultura da violência e ainda consome drogas”, completa o delegado-divisionário do DHPP, Marcos Carneiro. Já para a socióloga Sandra Carvalho, da ONG Justiça Global, o jovem está mais exposto a um processo de criminalização.

“Prova disso é que a maioria da população carcerária brasileira é formada por rapazes.”

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