9 milhões de pessoas dependem da água da Serra

 

Fonte: O Estado de S.Paulo

O desmatamento da Cantareira não ameaça apenas o hábitat de macacos bugios, suçuaranas e pica-paus. Os reflexos do que acontece lá afetam a vida de milhões de pessoas. A devastação assoreia córregos e represas, agrava o risco de enchentes e reduz a umidade do ar – o que provoca um aquecimento que se percebe a quilômetros. É fácil de se notar: na Cantareira, a temperatura é até 10°C mais baixa do que na Sé. Isso sem falar na importância da serra para o abastecimento de água. Conhecida pela abundância de água, armazenada em cântaros no século 19 (daí o nome), a serra, cortada por mais de cem mananciais, é fundamental no Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de água em metade da Grande São Paulo – dependem dele 9 milhões de pessoas.

Os impactos ambientais da urbanização registrada na região nas últimas décadas, e que cada dia mostra-se mais intensa e desordenada, resultou na perda da capacidade hidrográfica do sistema. Um estudo do Instituto Socioambiental (ISA) mostra que 73% das áreas de preservação do Sistema Cantareira foram degradadas por algum tipo de atividade humana. “Essa degradação comprometeu a capacidade de recuperação das represas na estiagem”, diz Pilar Cunha, do ISA.

Apesar de as construções não estarem dentro do Parque Estadual da Cantareira, área de proteção total, elas provocam a chamada pressão do entorno. “Isso afeta todo o ecossistema da região”, diz Kátia Mazzei, do Instituto Florestal. A fauna que habita os 56 milhões de metros quadrados de mata atlântica da Cantareira sofreu alterações nos últimos anos.

Um levantamento da bióloga Sandra Favorito, da Uniban, que estuda a fauna na Serra há dez anos, notou que pelo menos duas espécies de ratos silvestres, duas de peixes e o sapo dourado, há pouco comuns no entorno, só são encontrados dentro do parque. “Quanto mais a floresta é fragmentada por causa da expansão imobiliária, menores, as chances de os animais sensíveis sobreviverem”, diz. Outro receio dos biólogos em relação à urbanização é o contato de animais domésticos com silvestres, que pode levar às populações doenças como raiva, hantavirose e leptospirose.

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