Para economizar água, SP descumpre regra

Ao admitir redução de pressão nos encanamentos fora das normas, Sabesp contradiz governador Geraldo Alckmin; Estado nega contradição e diz que manobras adotadas desde 2014 podem gerar oscilação no abastecimento.

Por Gustavo Uribe e Fabricio Lobel

A Sabesp, empresa do governo paulista, reconheceu que, para economizar água e evitar o colapso do abastecimento na Grande SP, tem reduzido a pressão nos encanamentos abaixo das regras.

A informação contradiz o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que, no final do ano passado, negou que a empresa de água do Estado estivesse descumprindo norma da ABNT (Associação Brasileiras de Normas Técnicas).

A redução da pressão nos encanamentos é uma estratégia ampliada desde o ano passado pelo governo de SP, em especial nas áreas atendidas pelo sistema Cantareira.

Ao diminuir a pressão, a Sabesp "empurra" menos água na rede de abastecimento. Por um lado, reduz os vazamentos nos canos, já que há menos água em circulação. Por outro, deixa casas sem água, em especial as localizadas em pontos mais altos.

Pela norma brasileira, empresas de saneamento devem garantir, pelo menos, dez metros de coluna de água. A altura é necessária para que a caixa-d'água de um sobrado, por exemplo, possa ser constantemente abastecida.

Com apenas um metro de coluna de água, como a Sabesp reconheceu, a água não teria força para avançar nas tubulações da casa.

Em sessão de CPI na Câmara Municipal, o diretor metropolitano da companhia, Paulo Massato, afirmou que não seria possível atender milhões de pessoas abastecidas pelo sistema Cantareira se fosse mantida a "normalidade".

"Nós estamos garantindo um metro da coluna de água, preservando a rede de distribuição. Mas não tem pressão suficiente para chegar na caixa-d'água", disse Massato.

Questionado também na CPI, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, confirmou o descumprimento e disse que, em situações em que o direito coletivo está ameaçado, regras devem ser "relativizadas".

"Normas da ABNT e direitos individuais, em situação em que o direito coletivo está ameaçado, devem ser relativizados", disse Kelman.

Contraditoriamente, a Sabesp sempre afirmou que, para ter o abastecimento garantido, o morador de São Paulo deveria obedecer justamente às regras da ABNT, que recomenda a instalação de caixa-d'água nas residências.

A Arsesp (agência reguladora de São Paulo) informou que pedirá esclarecimentos à Sabesp. Em dezembro, ela já havia constatado que a empresa vinha diminuindo a pressão abaixo do recomendado.

Procurada, a assessoria de Alckmin afirmou que "não existe nenhuma contradição entre as declarações citadas". Segundo ela, as manobras de redução de pressão podem eventualmente gerar oscilação no abastecimento.

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

Compartilhe este artigo