Indústria consome 40% da água, mas faz pouco reúso

Proporção se refere ao volume disponível em rios, poços e reservatórios da Grande São Paulo e da Baixada Santista; Quantidade de água reutilizada equivale a só 5% da demanda; Fiesp nega que setor contribua para crise.

Por Eduardo Geraque

O setor industrial utiliza 40% de toda a água disponível para abastecimento em rios, poços e reservatórios da Grande São Paulo e da Baixada Santista, mostram números oficiais do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo).

Apesar do volume, a política de reúso é considerada insuficiente por especialistas.

Segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), os 42 projetos de conservação e reúso de água do setor na Grande São Paulo geram economia de 10 milhões de litros de água por ano –o equivalente a 1% da vazão do sistema Cantareira no mesmo período.

O valor representa menos de 5% da demanda anual do segmento na mesma área.

"A indústria não tem atrativos' para economizar sua água bruta", afirma Mateus Simonato, consultor e pesquisador do Cepas (Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas do Instituto de Geociências da USP).

O pesquisador diz que não vê a indústria como um vilão, mas afirma que a sociedade está perdendo uma grande chance com a atual seca.

"A crise deveria deflagrar, entre outras medidas, políticas públicas de incentivos às empresas que adotassem ações para a diminuição do consumo de água", afirma.

Atualmente, os custos de captação da água são bem inferiores aos tratamentos necessários para o reúso, afirma Simonato.

Para ele, a diminuição do consumo deveria ser discutida por todos os segmentos diante da atual crise. "A obrigação de consumir menos está ficando somente na conta do cidadão comum [residências]", afirma.

Já Anícia Pio, gerente de meio ambiente da Fiesp, afirma que o uso da água pela indústria não compete com o abastecimento da população. "Retiramos água de rios poluídos, como o Tietê", afirma. Dentro dos 40%, há 17% que são destinados à produção de energia, na usina termoelétrica de Piratininga.

Nem toda a água que chega à torneira dos moradores está computada nos números da Grande São Paulo.

Em outras áreas do Estado, a irrigação também gasta bastante água da natureza.

Para o geógrafo Wagner Ribeiro, professor titular da USP, se a indústria não mudar seu padrão de consumo, medidas mais drásticas podem entrar em discussão –inclusive a saída das indústrias da região metropolitana.

"Já passou da hora de discutirmos a presença de grandes consumidores de água na região metropolitana, que é uma área de escassez hídrica reconhecida no mundo. É fundamental reavaliar a conveniência de manter indústrias funcionando aqui", afirma o professor.

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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