Queixas de zeladoria lideram na Prefeitura

Principais registros na central 156 estão ligados a carro-chefe da gestão Doria; só 50% são atendidos

Luiz Fernando Toledo – O Estado de S. Paulo

Poda de árvore, tapa-buraco e remoção de veículos abandonados em via pública estão entre as principais reclamações feitas por paulistanos ao canal 156, da Prefeitura de São Paulo. Todas elas se referem a problemas de zeladoria urbana – cuidados com a cidade que envolvem áreas verdes, manutenção do asfalto, limpeza, etc. Essa área é um dos carros-chefe da gestão João Doria (PSDB). Dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação mostram que em novembro de 2016, quando os números começaram a ser compilados pelo poder público, o total acumulado de registros não atendidos chegava a 580,4 mil. Já em março deste ano, este número atingiu 698,3 mil, o que representa uma alta de 17%.

Ao todo, a Prefeitura deixa de atender quase metade dos pedidos feitos. Das 264.690 solicitações foram feitas desde novembro até o fim de março, 117.966 (54%) foram atendidas.

A Prefeitura atribui a demanda represada à gestão anterior, de Fernando Haddad (PT). A assessoria do ex-prefeito refuta. Diz ainda que vem adotando medidas para melhorar os serviços na cidade (Leia mais no infográfico abaixo). 

O aposentado Paulo Rinaldi, de 75 anos, pede desde o início de janeiro a poda de uma árvore na rua Juca Floriano, na Casa Verde, zona norte da capital. “Ela tem diversos galhos podres com mais ou menos 20 centímetros, tudo comido por cupim. Já fizemos reclamação por escrito para a Prefeitura e para a Defesa Civil. Os galhos estão no meio da rua, balançando. Se cair em cima de uma pessoa, vai morrer ou machucar gravemente”, conta. 

O problema é alvo de proposta de Doria em discussão na Câmara Municipal. Para reduzir o tempo de espera para remoção ou poda, que pode passar de um ano, a Prefeitura propõe que os próprios moradores possam contratar e pagar pelo serviço, que hoje é exclusivo da Prefeitura. Quem é flagrado desrespeitando a norma paga multa de R$ 10 mil, além de responder por crime ambiental. 

A advogada Sônia Amaro, da Proteste – Associação de Consumidores, diz que a entidade já entrou com ação contra a Prefeitura pedindo agilidade nos atendimentos. “Se o cidadão reclama com a Prefeitura, ela joga para a Eletropaulo. E a Eletropaulo joga para a Prefeitura”, afirma.

Outras reclamações

Os pedidos de tapa-buraco estão na vice-liderança das reclamações não atendidas: 64,7 mil. Também são comuns os casos de remoção de veículo abandonado em via pública (42,2 mil), calçadas irregulares (20,3 mil) e recapeamento (18,8 mil). Em ruas percorridas pela reportagem, a principal reclamação dos cidadãos é sobre a falta de manutenção e zeladoria constante na cidade. O entendimento dos moradores é de que as reclamações funcionam, ainda que fora do prazo ideal, mas de que deveria haver mais proatividade da Prefeitura para evitar os problemas antes que aconteçam.

A Avenida Casa Verde, na zona norte, acumula problemas. No cruzamento com a Rua Águas Virtuosas há mato alto em quase metade do quarteirão, ao lado de um ponto de ônibus . “Aqui é um lugar abandonado. Eles só lembram na época das eleições”, reclama a doméstica Miriam Teixeira Leão, de 59 anos. No cruzamento com a Rua Dr. Jorge Brand, o problema são as calçadas irregulares. “Eles até arrumam, mas logo aparece outro buraco. É muito comum as pessoas se machucarem por aqui”, diz a dona de casa Neide de Oliveira, de 75 anos.

Doria culpa Haddad 

A Prefeitura atribui o acúmulo de solicitações à demanda represada da gestão Fernando Haddad. Doria diz que, “mesmo com a defasagem”, adotou diversas medidas para melhorar os serviços na cidade, como aumento das equipes para operação tapa-buraco, criação do programa Cidade Linda e Mutirão Mário Covas, de zeladoria e recuperação de calçadas. A assessoria de Haddad diz que o aumento tem a ver “com o estilo de administrar do atual prefeito, que despreza mecanismos públicos de consulta e informação”.
 

As demandas de zeladoria são maioria entre as reclamações não atendidas feitas via 156.

Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.
 

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