Agência Lupa: Doria e o Corujão da Saúde

Folha de S. Paulo

Em Porto Alegre, no Fórum da Liberdade, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), derrapou ao falar da saúde municipal.

"Com 83 dias de gestão, nós colocamos a zero o déficit [de exames] da Saúde"

EXAGERADO

A gestão do prefeito João Doria (PSDB) prometeu zerar a fila de espera por exames na cidade de São Paulo em apenas três meses.

Para isso, criou o programa Corujão da Saúde. Perto de completar esse prazo, a prefeitura anunciou que havia "praticamente" zerado a fila e que, dos 485 mil exames que aguardavam para serem feitos na cidade até o fim de 2016, apenas 1.706 (0,35%) não haviam sido atendidos.

Mas, enquanto a prefeitura trabalhava para sanar a fila antiga, uma nova se formou, com pessoas que buscaram exames na rede municipal de janeiro de 2017 para cá. No dia 2 de abril, já havia 95.777 exames esperando agendamento.

Procurada, a prefeitura reconheceu a existência da nova fila e disse que ela está "dentro da normalidade". "Ter de 80 a 120 mil pacientes aguardando é perfeitamente condizente com o objetivo de que esses exames sejam atendidos em um prazo de 30 a 60 dias".

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"Temos que ter a capacidade de atendê-los, todos, no limite de 60 dias"

CONTRADITÓRIO

A proposta do Corujão era zerar a fila de exames e ter o prazo máximo de 30 dias para que um novo procedimento fosse realizado na rede pública de saúde de São Paulo.

Em janeiro, o prefeito chegou a prometer que, caso a espera ultrapassasse 30 dias, o Corujão seria imediatamente retomado. Em nota divulgada na ocasião, a prefeitura foi clara: "Ao final do Corujão, nenhum paciente deverá aguardar por exames por mais de 30 dias". A prefeitura afirma agora que o prazo normal de atendimento de um exame é de até 60 dias.

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"[Conseguimos doações de] R$ 128 milhões para o atendimento de três meses de produtos necessários para as farmácias públicas"

EXAGERADO

Segundo dados do Portal da Transparência, a prefeitura havia recebido apenas R$ 6,52 milhões em doações de medicamentos até o dia 28 de abril. Esses valores também tinham sido publicados no "Diário Oficial", caracterizando doações efetivamente concluídas.

A prefeitura afirma, no entanto, que há ainda cerca de R$ 3,73 milhões em medicamentos que já foram doados, mas ainda aguardam tramitação para aparecer no sistema público de acompanhamento. Somadas, porém, as duas quantias chegam a apenas R$ 10,25 milhões.

Em nota, a administração diz que cerca de R$ 120 milhões foi uma "estimativa feita, a preços de mercado, pela indústria farmacêutica do que seria necessário doar à prefeitura para fazer frente à situação emergencial encontrada pela atual gestão".

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"476 mil pessoas aguardavam em filas [por exames]"

INSUSTENTÁVEL

Segundo a própria prefeitura, não existem dados públicos sobre o número de pessoas que estavam na fila dos exames antes do início do Corujão.

O dado que existe diz respeito ao total de exames que precisavam ser feitos. Até dezembro de 2016, eles somavam 485,3 mil. A prefeitura acrescentou que não trabalha com número de pacientes por considerar que "não há relevância". Se uma pessoa tiver dois exames para fazer deverá ter dois agendamentos independentes.

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"Não teve mais dinheiro [para o Corujão da Saúde] não. O mesmo recurso que estava aqui [foi] colocado no orçamento, tabela SUS"

De acordo com a própria prefeitura, ainda não é possível saber quanto foi efetivamente gasto no Corujão da Saúde. A gestão afirmou que os exames do programa devem ser concluídos no final de maio e que, só então, a prefeitura saberá quanto efetivamente o programa custou Inicialmente, o Corujão foi estimado em R$ 17 milhões.

A prefeitura afirma que a verba faz parte do orçamento do SUS, "não se tratando de dotação orçamentária adicional ou extraordinária".

Com reportagem de MARINA ESTARQUE 

Matéria publicada na Folha de S. Paulo.
 

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