Invasões devem deixar 14 escolas sem aula no início da semana em SP

POR ARTUR RODRIGUES, LEANDRO MACHADO E RODRIGO RUSSO – Folha de S. Paulo

Ao menos 14 escolas estaduais da Grande São Paulo devem começar esta segunda-feira (16) sem aulas por causa de invasões promovidas por estudantes e integrantes do MTST (movimento sem-teto) em protesto à reorganização do ciclos de ensino na rede.

Desde a manhã terça-feira (10), quando estudantes entraram no colégio Fernão Dias Paes, em Pinheiros (zona oeste), uma onda de invasões ocorreu em unidades escolares do governo do Estado.

Os manifestantes protestam contra a decisão da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) de dividir parte dos colégios por ciclos únicos de ensino (anos iniciais e finais do fundamental e o médio).

Esse plano prevê para 2016 o fechamento de 93 escolas e o remanejamento de 311 mil alunos –a rede estadual tem 5.147 escolas e atende a 3,8 milhões de alunos. Ao todo, 754 escolas atenderão só um ciclo de ensino no Estado.

Na Fernão Dias Paes, em Pinheiros, dezenas de alunos ainda ocupavam o prédio até o início da noite deste domingo. A partir de 2016, a escola terá apenas o ensino médio –haverá uma troca de alunos com o outro colégio da região, o Godofredo Furtado.

Na sexta, a Justiça chegou a decretar reintegração de posse do local, mas, no mesmo dia, voltou atrás. Depois da Fernão, sete unidades foram tomadas por estudantes.

Outras seis foram invadidas MTST –o movimento diz que a reorganização dos ciclos é uma política de austeridade e não educacional.

Na noite deste domingo, os sem-teto ainda não sabiam dizer se iriam deixar alguma unidade. Um dirigente do movimento afirmou que possivelmente militantes sairiam de alguns colégios.

ALUNOS NO CONTROLE

Na escola estadual José Lins do Rego, no Jardim Ângela (zona sul de SP), os alunos trancaram os portões e passaram a vetar o acesso à unidade neste domingo.

No sábado, uma confusão entre manifestantes e policiais militares acabou com dois professores feridos.

Em assembleia, os alunos decidiram que não permitirão a realização das aulas nesta segunda e ficarão no local por tempo indeterminado.

A ocupação foi iniciada pelo MTST, mas os estudantes assumiram o controle da escola. A maioria dos sem-teto já deixou o local.

Em nota, a secretaria da Educação afirmou que "continua aberta ao diálogo" e que algumas ocupações são lideradas "por movimentos que sequer conhecem o processo de reorganização da rede estadual de ensino".

A pasta afirma, também, que as escolas José Lins do Rego e Antonio Adib Chammas –ocupadas pelos sem-teto– não vão sofrer mudanças no próximo ano.

FUNÇÕES NO CRACHÁ

Na Escola Estadual Fernão Dias Paes, em Pinheiros (zona oeste de SP), primeira unidade ocupada no Estado, cada estudante tem uma função. Para facilitar a identificação de quem faz o que, os jovens usam crachás.

"Milico é quem faz a segurança. A gente usou esse nome porque achou segurança muito forte", explica a estudante Camilla Rodrigues, 15. "Eu sou porta-voz, por isso sou eu que estou falando com você".

Os porta-vozes também passam informações para quem passa no local para dar apoio e até escrevem textos com posicionamentos dos estudantes a pedidos de veículos de comunicação.

O acesso ao interior da escola é permitido para qualquer um, desde que passem pelos milicos, que pedem para o visitante assinar o nome em uma lista e dão um papel com uma senha.

Já a porta do prédio da escola conta com um guardião, o estudante Denis Neves, 19. É ele quem autoriza quem entra e sai do local. "Para entrar, tem que ser secundarista", diz.

Ao lado dele, havia um saco com celulares confiscados de estudantes de várias escolas que participavam de uma reunião para definir os rumos da manifestação. Na saída, todos pegariam os objetos de volta.

Enquanto isso, na área livre onde fica o jardim da escola, os estudantes haviam organizado diversas oficinas. Quando a Folha esteve no local, os jovens aprendiam como fazer tie-dye, uma técnica de tingimento de tecido.

A programação para o domingo ainda previa conversa sobre arte de rua e um show de rap.

Do lado de fora, jovens atualizavam um placar com as horas de ocupação: eram 133 por volta das 18h.

Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.

 

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