Paulista vira até praia, mas Haddad terá de negociar próximos bloqueios

A avenida Paulista, na região central de SP, teve neste domingo (23) um segundo, e talvez último, teste de fechamento para veículos e de uso exclusivo para ciclistas e pedestres como via de lazer.

Para que a iniciativa se torne permanente, o prefeito Fernando Haddad (PT) terá agora de negociar com o Ministério Público e com a associação que reúne moradores, comerciantes e empresários da região da avenida.

As negociações começam já nesta semana, em paralelo a um novo estudo de impacto do trânsito feito pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) da cidade.

A resistência dos promotores está no papel. Segundo eles, um acordo com a prefeitura, de 2007, limita a três por ano o número de eventos de duração prolongada e com interrupção da avenida. Neste ano, seriam eles a Parada Gay, a inauguração da ciclovia, evento realizado em junho, e a festa de Réveillon.

De acordo com o prefeito, o fechamento da via todos os domingos ou uma vez por mês, como chegou a cogitar, não se encaixa nesse acordo com o Ministério Público.

"O que nós estamos propondo é a discussão de política pública. E isso obviamente vamos fazer em parceria com o Ministério Público, que deve ter abertura para a discussão desse tipo de mudança", afirmou o prefeito, que passeou de bicicleta ao lado de sua mulher, Ana Estela.

Neste domingo, para não descumprir oficialmente esse acordo com os promotores, que recomendaram que a via ficasse aberta para carros o dia inteiro, a prefeitura só fechou a Paulista às 11h, alegando questão de segurança pela aglomeração de pessoas.

"Só demorou um pouco [para fechar aos carros], mas já estava programada", disse um agente de trânsito.

Outra resistência vem da Associação Paulista Viva, espécie de porta-voz de moradores e comerciantes. Segundo ela, além de ser uma ação de "marketing" da prefeitura, o fechamento traz prejuízo a jornaleiros, taxistas, hotéis e estacionamentos.

Ao lado de Haddad na avenida, o secretário municipal Jilmar Tatto (Transportes) provocou esses críticos.

"Qual o transtorno de abrir a Paulista para todos, pedestres e ciclistas, aos domingos? Tem realmente um transtorno? O comércio funciona no domingo? Se os hospitais falam que tudo bem, os shoppings falam que tudo bem, a CET busca alternativa para funcionar. É um local agradável. É bom para a cidade."

Assim como no primeiro teste de fechamento, em junho, a Paulista viveu neste domingo um dia inteiro de lazer –e até de festa e de praia.

O motivo oficial do fechamento foi a inauguração da ciclovia da av. Bernardino de Campos, espécie de continuação da Paulista. Além de pedalar, teve gente que caminhou, assistiu à peça de teatro, dançou e até esticou toalha na calçada para tomar sol.

"As pessoas param, tiram foto. É um barato", diz a administradora de empresas Marcela de Andrade, 25, que foi de biquíni para a avenida. "A Paulista vai ser o nosso piscinão", brincou a designer Amynata Nepomuceno, 22.

Entre 11h e 17h, o trânsito foi desviado para vias paralelas. Alguns motoristas e taxistas se irritaram com a mudança.

Segundo a PM e a Guarda Civil Metropolitana, nenhuma ocorrência grave foi registrada. Pessoas de várias regiões da cidade passaram por lá. "Eu era contra, mas percebi a importância da ciclovia na avenida", disse a professora Gislaine Brea, que pedalou 15 km da zona sul até lá.

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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