O que os votos brancos e nulos, as abstenções e a queda da participação dos jovens têm a revelar

Somados, dados podem indicar desinteresse pela eleição ou rechaço às opções disponíveis. Em São Paulo, número de eleitores que não compareceram é recorde

João Paulo Charleaux – Nexo Jornal 

Três indicadores são frequentemente citados como termômetro para medir o desencanto dos eleitores com a política no Brasil. São eles:

– Votos brancos e nulos: quando o eleitor vai à urna, mas decide não eleger candidato algum;

– Abstenções: quando o eleitor simplesmente não comparece à urna no dia da eleição (e precisa justificar depois);

– Títulos de eleitores jovens: diz respeito ao número de eleitores com idade entre 16 e 18 anos (período em que o voto é facultativo) que tiram título de eleitor pela primeira vez.

Nenhum desses três itens é capaz de, sozinho, indicar desencanto com a política. Porém, eles podem dar pistas sobre a relação dos eleitores com os candidatos e com o sistema político como um todo.

O Nexo perguntou ao cientista político da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Jairo Nicolau que leitura ele faz da soma desses três fatores nesta eleição municipal de 2016.

“Há sinais de desinteresse e de afastamento do eleitor. A desilusão pode ser maior agora do que era antes”, diz Nicolau. Porém, o professor ressalva que os dados, por si só, não são conclusivos. Veja como esses três fatores evoluíram nos últimos anos.

Brancos e nulos

A média dos votos brancos e nulos nas eleições municipais no Brasil vem sendo de 7%, considerando os primeiros e segundos turnos de 2000, 2004, 2008 e 2012. Na análise desse mesmo período, o pico nacional de brancos e nulos se deu em 2012, quando o percentual nacional bateu em 11%. Ainda não há números fechados sobre os votos brancos e nulos na soma total do país em 2016.

Entre as cidades em que o dado está consolidado, São Paulo mostra uma alta em relação à eleição passada. Foram 1,2 milhão de votos brancos e nulos em 2016, equivalente a 13% do universo total de eleitores paulistanos, quase três pontos percentuais a mais do que em 2012.

ELEIÇÕES MUNICIPAIS

“[Os votos brancos e nulos] não me parecem tão relevantes. O voto em branco, sobretudo, na avaliação que nós fazemos, é mais um voto de desinformação do que de protesto. Então, não me parece relevante”, Gilmar Mendes, presidente do TSE.

Abstenções e um recorde

A média de abstenção nas eleições municipais brasileiras vem sendo de 16%, quando computados os primeiros e segundos turnos das votações de 2000, 2004, 2008 e 2012.

Em 2016, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, considerou o índice de abstenção 17% “relativamente baixo”, embora tenha dito que o ideal deveria se situar ao redor dos 5%.

Em São Paulo a abstenção foi recorde. Atingiu quase 22% do eleitorado, no maior índice registrado em eleições municipais na história recente. Foram mais de três pontos percentuais na comparação com quatro anos atrás.

ELEIÇÕES MUNICIPAIS

Em números absolutos, se somarmos abstenções (1.940.454 eleitores) com os votos em branco (367.471) e nulos (788.379), chega-se a um número superior (3.096.304) aos votos dados ao prefeito eleito João Doria (PSDB), que obteve 3.085.187 votos.

Em primeiros turnos, não é inédito que isso aconteça. Em 2012, por exemplo, o tucano José Serra acabou em primeiro nessa etapa, mas também teve menos votos que a soma dos brancos, nulos e das abstenções. A diferença é que, naquele ano, houve segundo turno, vencido pelo petista Fernando Haddad. Daí, o vencedor acabou no final tendo mais votos a favor do que brancos, nulos e abstenções.

A relação entre abstenção e desilusão política, porém, não é tão simples quanto parece. O dado traz consigo não apenas informações sobre o comportamento do eleitor que não quis votar, mas também um número incerto de eleitores falecidos que não foram excluídos dos registros eleitorais, além de eleitores que simplesmente estavam fora de seus domicílios eleitorais no dia da votação ou dos eleitores que têm voto facultativo, como os idosos com mais de 70 anos e os jovens com idade entre 18 e 16 anos.

“É preciso ver com cuidado o percentual de abstenção. [A ausência] pode não ser necessariamente uma crítica política”, diz Jairo Nicolau. Segundo ele, “muitos eleitores vêm se dando conta de que o custo de não votar nem é tão alto, basta pagar uma pequena multa depois.”

Queda no voto jovem

Até junho deste ano, só 40% dos jovens brasileiros com idade entre 16 e 18 anos haviam tirado título de eleitor pela primeira vez. Esse índice representa uma queda de 9 pontos percentuais quando comparado com o mesmo período de 2012.

No Brasil, o voto é facultativo nessa faixa etária, e após os 70 anos também. Em relação aos jovens, o ingresso espontâneo no sistema eleitoral é normalmente entendido como um indicador da vontade de participar politicamente dos rumos do país. A queda representa, portanto, a decisão de retardar esse direito até que ele passe a ser uma obrigação, aos 18 anos.

ADOLESCENTES DE 16 E 17 ANOS COM TÍTULO ELEITORAL

​Matéria publicada no portal do Nexo Jornal.

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