Por mais eficiência, São Paulo vai reduzir o número de ônibus nas ruas

Por Leão Serva

A Prefeitura de São Paulo vai reduzir o número de ônibus nas ruas e espera ao mesmo tempo melhorar o transporte público na cidade.

A nova licitação de transportes públicos, cujo processo deve começar no final de fevereiro, vai prever a contratação de menos carros do que hoje: dos atuais 15 mil, a frota será reduzida em 27%, para cerca de 11 mil veículos.

No entanto, esse projeto prevê uma oferta maior de espaço para os usuários.

A aparente contradição se explica pelo aumento do tamanho dos veículos nos corredores e grandes avenidas e pela redução das linhas autorizadas a entrar nessas vias: o resultado será uma maior velocidade do sistema.

"Temos que acabar com as filas de ônibus nos corredores e faixas exclusivas", diz o prefeito, Fernando Haddad.

Reportagem de ontem (31) da Folha revelou que, para atrair mais empresas para essa nova licitação de transporte, a prefeitura irá desapropriar as garagens de ônibus das atuais empresas.

Com isso, a prefeitura se apropriará desses espaços para depois entregá-los aos vencedores da licitação –é uma forma de ampliar a concorrência e reduzir os custos.

Novas vias

Nesse novo pacote, em vez de dividir a cidade em áreas, como hoje, a nova licitação vai criar três tipos de serviço.

1) "estrutural" (grandes ônibus "como trens pelos corredores", diz Haddad);

2) "alimentador" ou "coletor" (carros médios que ligam áreas densas dos bairros ao sistema estrutural);

3) "intra-bairro" (linhas de veículos pequenos nas ruas estreitas em área residencial).

Nas vias "estruturais", os ônibus articulados passarão dos atuais 400 para cerca de 2.000, com forte aumento na oferta de assentos. No sistema intermediário, serão quatro mil veículos médios.

E, nas linhas locais, 5.000 pequenos microônibus ou vans, passando pelos pontos em intervalos menores.

Questionado se confirma a redução do número de veículos, o secretário de Transportes, Jilmar Tatto, pensa um pouco e diz: "Sim e não".

Pensa de novo e fala: "Com menos carros parados em congestionamentos, teremos mais ônibus circulando em velocidade maior. O resultado será mais capacidade de carregamento".

E propõe uma imagem: "Se, por hipótese, eu dobrar a velocidade de uma via, posso reduzir à metade o número de veículos e manter a mesma oferta de assentos, com mais rapidez nas viagens".

Esse é o projeto. Entre ideia e realização, há um mundo de desafios: a divisão da cidade entre sistemas estrutural e alimentador estava na licitação liderada pelo próprio Tatto em 2004, como secretário da prefeita Marta Suplicy.

Na época, porém, a resistência dos operadores e a pressa determinada pelo calendário eleitoral resultaram no esvaziamento do projeto.

O usuário de ônibus normalmente não gosta de trocar de veículos durante a viagem, porque perde a cadeira, tem que andar até outro carro e a conexão demora.

Já usuários de metrô não recusam transferências de linha, porque, em geral, os trens chegam em alta velocidade aos destinos.

A prefeitura aposta que o novo sistema vai aumentar a velocidade e reduzir a resistência às trocas. Além da vantagem logística, com menos carros haverá economia, projeta a prefeitura.

O custo de pessoal (principalmente motorista e cobrador) corresponde a 26% do sistema. Um ônibus biarticulado leva três vezes mais passageiros com o mesmo custo de pessoal de um veículo pequeno ou de uma van.

Além disso, o cobrador (12% do custo) será excluído nos corredores, onde o passageiro debita o bilhete único chegar ao terminal.

Haddad prometeu entregar 150 km de corredores de ônibus até o final de 2016, mas fechou 2014 com apenas 36 km em obras. 

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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