MPF pede ao governo de São Paulo o racionamento imediato no Sistema Cantareira

Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo recomendou ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) e à Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) que apresentem projetos para aimediata implementação do racionamento de água nas regiões atendidas pelo Sistema Cantareira.

Segundo o Ministério Público Federal, o objetivo é evitar um colapso do conjunto de reservatórios que abastece 45% da Região Metropolitana da capital. A recomendação é consequência da maior crise hídrica enfrentada pelo Estado. O governo de Geraldo Alckmin e a Sabesp têm dez dias para informar quais providências serão tomadas em relação à recomendação. O MPF não descarta a adoção de medidas judiciais caso o governo não cumpra a medida.

Procurados, o governo paulista e a Sabesp informaram que não haviam sido notificados sobre o pedido da Procuradoria da República. De acordo com a Sabesp, a "adoção do racionamento seria prejudicial para a rede de distribuição e para a população mais carente".

A recomendação do MPF insere-se em um inquérito civil público aberto para apurar a crise hídrica. Um estudo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) indica que o volume do Sistema Cantareira pode secar totalmente em menos de 100 dias.

Segundo o Ministério Público Federal, apesar de a situação ser delicada e da previsão de pouca chuva para os próximos meses, o governo de São Paulo descartou o racionamento, mantendo apenas a concessão de descontos a quem economiza água. Ainda de acordo com a Procuradoria da República, a Sabesp chegou a propor o aumento da vazão para manter o abastecimento em níveis contínuos, mas o comitê anticrise que monitora a situação dos reservatórios rejeitou o plano.

Volume morto

Desde o dia 15 de maio, a Sabesp tem captado a água do chamado "volume morto", ou seja, das camadas mais profundas dos reservatórios, pois os níveis regulares se esgotaram. O MPF destaca na recomendação enviada ao governo que o volume morto mantém, segundo estudos, maior concentração de poluentes, que incluem metais pesados, compostos orgânicos prejudiciais à saúde, bactérias, fungos e vírus.

Na Copa, 26% elevam consumo de água em SP

Outro dado chamou a atenção nesta segunda-feira: o legado da Copa do Mundo foi negativo para o já crítico sistema hídrico paulista. Balanço apresentado pela Sabesp mostra que 26% dos clientes da Região Metropolitana, ou 5,2 milhões de pessoas, aumentaram o consumo de água nas leituras feitas entre 15 de junho e 15 de julho, período no qual ocorreu o campeonato. No levantamento fechado do mês passado, 21% haviam elevado o gasto.

Com a queda na adesão ao programa de bônus da Sabesp na Grande São Paulo, o volume de água economizado no período de 30 dias caiu 38,5% na comparação entre os dois balanços, de 3,9 mil litros para 2,4 mil litros por segundo. A diferença seria suficiente para abastecer 450 mil pessoas por um mês. Embora algumas leituras do período tenham medido o consumo realizado na segunda quinzena de maio, a companhia informou que esse é o balanço que melhor retrata o impacto da Copa no gasto com água.

Na região atendida pelo Sistema Cantareira, que sofre a pior crise de estiagem da história, o saldo foi ainda pior. O número de clientes que aumentaram o consumo de água no período do Mundial subiu para 24% ante os 14% do levantamento anterior. Na prática, o volume de água economizado caiu 29,6%, de 2,7 mil litros para 1,9 mil litros por segundo, índice que também é inferior ao registrado no mês de maio.

Os dados recentes indicam que cerca de 2,1 milhões de pessoas atendidas pelo Cantareira aumentaram o consumo de água no período da Copa. Uma das regiões abastecidas pelo principal manancial paulista é o bairro boêmio de Vila Madalena, zona oeste da capital paulista, que chegou a receber 70 mil torcedores que acompanharam as partidas nos bares e nas ruas. Logo após o fim do evento, os estabelecimentos começaram a sofrer com falta d’água à noite e chegaram a substituir copos de vidro pelos de plástico para servir os clientes. Segundo a Sabesp os problema são pontuais e em locais que não têm caixa d’água grande.

Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo

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