Mudança nos ônibus deve aumentar baldeações na periferia da capital

Termina nesta segunda-feira (5) o prazo para que os paulistanos possam ler e opinar sobre a licitação proposta pela Prefeitura de São Paulo que promete fazer mudanças profundas no sistema de ônibus da cidade, como o aumento do número de baldeações e corte de linhas. O edital e seus anexos estão disponìveis no site da prefeitura

Se tudo ocorrer conforme o proposto pela gestão João Dória (PSDB), até o fim deste ano praticamente todos os itinerários sofrerão alterações, não haverá mais cobradores e a mudança na distribuição dos coletivos obrigará pessoas que moram nas periferias a fazerem mais baldeações para ir de um ponto a outro.

De acordo com a prefeitura, existem hoje dois sistemas: o local, prestado pelas vans que atendem os bairros; e o estrutural, que abarca ônibus grandes nas vias principais.

O plano do governo é mudar para um modelo dividido por três sistemas: o intrabairro, composto por vans e ônibus pequenos que ligarão bairros residências a áreas mais densas; a articulação regional, com coletivos médios que partem destas regiões até os corredores; e o estrutural, com veículos articulados que farão o trajeto até o centro e grandes vias.

Na prática, a prefeitura reconhece que pessoas que moram mais distante terão um aumento de baldeações para chegar ao centro.

Outra mudança é a redução da frota, com a retirada de 936 ônibus. Apesar disso, afirma a prefeitura em nota, o tempo das viagens não deve aumentar; ao contrário, estas serão mais rápidas, já que com a alteração haverá menos interferência de veículos menores nas grandes avenidas e, com isso, os ônibus grandes ganharão velocidade.

“Mas para que isso funcione é preciso de fiscalização efetiva dos horários de saída dos ônibus. A fiscalização hoje é precária, apesar de já termos tecnologia para fiscalização eletrônica”, explica Flávio Siqueira, coordenador do projeto Cidade dos Sonhos.

Para a analista de desenvolvimento urbano Beatriz Rodrigues, do ITDP (Instituto de Política de Transporte e Desenvolvimento, na sigla em inglês), as baldeações são necessárias para melhorar o sistema de transporte. “Entretanto, elas devem ocorrer de forma integrada, sem que as pessoas necessitem atravessar ruas, por exemplo, e que contemple o atual modelo de integração das tarifas”.

“A licitação precisa ser melhor discutida. Defendemos  a entrada de novas empresas, mas as condições mínimas estabelecidas pelo edital tendem a favorecer as atuais viações”, frisa a analista do ITDP.

CONSULTA PÚBLICA

Em nota, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes diz que realizou 32 audiências públicas para garantir a possibilidade de cada pessoa fazer suas considerações pessoalmente.

Porém, segundo especialistas ouvidos pela Agência Mural, diante do grau de importância desta reformulação, há falhas no processo que prejudicam a participação das pessoas e a atuação de organizações que trabalham com o tema.

“Existe necessidade de uma maior participação pública na consulta do edital, de modo a trazer mais detalhes e explicar as regras para a população e essa participação deve ocorrer tanto agora, durante a sua abertura, quanto depois, para subsidiar a implementação da nova rede de ônibus”, complementa Beatriz Rodrigues.

“Acho que tinha que ter mais informação para as pessoas, né!? Eu não sabia que isso iria acontecer. Não fui em audiência nenhuma, não fiquei sabendo”, afirma Cleonice de Souza, 48, moradora do Jardim Peri, bairro periférico no extremo norte de São Paulo.

“Além de ser um processo que não estimulou a participação das pessoas, ele veio cheio de problemas, como o uso de uma linguagem difícil. E o edital possui cerca de 6 mil páginas”, frisa o especialista do coletivo Cidade dos Sonhos, que reúne ONGs como Greenpeace e Rede Nossa SP.

João Paulo Brito é correspondente da Vila Nova Cachoeirinha
joaopaulobrito.mural@gmail.com

Matéria publicada no Blog Mural, do Uol 

 

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