Doria foca zeladoria e empresários e dedica à periferia só 1 em 5 visitas

ARTUR RODRIGUES E LEANDRO MACHADO – FOLHA DE S. PAULO

Em seu primeiro mês de mandato, o prefeito João Doria (PSDB) deixou a periferia de São Paulo em segundo plano e priorizou encontros com empresários e visitas relacionadas à zeladoria –tema alvo de críticas à gestão anterior.

Conforme a agenda oficial do prefeito, um em cada cinco compromissos externos do tucano ocorreram em bairros periféricos da capital. De 46 saídas, 10 tiveram como destino os extremos da cidade.

Durante a eleição, o tucano afirmou que se sensibilizou com a situação das regiões mais distantes do centro e que este seria seu foco. "[A periferia] será nossa prioridade porque a situação me tocou muito o coração. Ela é de uma fragilidade quase absoluta. Ali precisa ter a mão do Estado, do gestor público." Antes de ser eleito, ele também criticou o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) por rodar pouco por São Paulo.

Até agora, cumpriu a promessa de sair mais às ruas que o petista, mas incorreu na mesma característica que o ex-prefeito, que dedicou a minoria das ações externas à periferia no início de 2013. Nos primeiros 50 dias de governo, Haddad teve somente 25 eventos externos, dos quais apenas quatro na periferia.

No caso de Doria, visitas de surpresa a repartições e o programa de melhoria de calçadas motivaram as idas para as áreas periféricas. Temas relacionados à limpeza e manutenção da cidade, como a melhoria das calçadas e combate aos pichadores, tiveram ampla repercussão e dominaram a agenda. Predominaram, por exemplo, sobre áreas como educação.

Levantamento da Folha com base na agenda oficial mostra que, de 145 compromissos (incluindo saídas e reuniões), 27 foram ligados ao tema da zeladoria. Esse tipo de agenda permitiu a apresentação de resultados pontuais imediatos (limpeza, pintura e poda de árvores). Além disso, a área de zeladoria possibilitou ações com potencial midiático, como quando se vestiu de gari ou usou cadeira de rodas.

No fim da gestão Haddad, o assunto era o que registrava maior número de reclamações feitas à Ouvidoria.

Os compromissos externos relacionados à saúde, um total de sete, foram voltados ao Corujão da Saúde (programa que usa a iniciativa privada para realizar exames) e em visitas surpresas a unidades de atendimento médico. Nessas ações, sem a presença da imprensa, uma equipe de Doria registrou tudo para publicação mais tarde nas redes sociais.

O aumento da velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros dominou os eventos sobre mobilidade, em que o transporte público ficou de lado. Entre os compromissos externos, o único voltado à habitação foi a inauguração de uma obra do governo estadual. O prefeito ainda não se reuniu com movimentos sociais de moradia, que prometem fazer oposição ele.

Já empresários tiveram as portas abertas. Foram dez encontros no primeiro mês, boa parte deles para tratar de doações para cidade, uma das apostas em meio à crise. No dia 6, Doria se reuniu com executivos da Unilever. No encontro, tratou de acordo para a empresa gerir os banheiros do parque Ibirapuera por um ano, sem custo.

Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV, Doria tem agido mais como personagem midiático. "Está adotando um procedimento que está chamando todos os holofotes, como se fosse um super-homem. E cria expectativa de que está resolvendo, quando está fazendo ações pontuais", afirma.

A gestão Doria diverge do levantamento da Folha. Afirma que há 54 eventos públicos e saídas, das quais 29 foram no centro expandido e 25 fora –o que inclui periferia e até bairros nobres. A nota do município diz ainda que "os números e a demarcação geográfica são insuficientes para analisar o mérito". E que temas importantes foram discutidos em reuniões com o secretariado –no caso da saúde foram 11, contabiliza a prefeitura.

Matéria publicada na Folha de S. Paulo.

 

Compartilhe este artigo