Sem aviso, SPTrans bloqueia 9,9 mil bilhetes únicos

Medida de combate a fraudes causou filas de pessoas que foram à empresa para recuperar cartão; secretário reconhece problema

Luiz Fernando Toledo, O Estado de S. Paulo

Sem aviso prévio, a Prefeitura de São Paulo bloqueou 9,9 mil cartões de bilhete único que estão sob suspeita de algum tipo de fraude só nas duas primeiras semanas deste ano. Por causa da ação, centenas de usuários do transporte público na capital que tiveram o bilhete desativado lotaram o posto da São Paulo Transportes (SPTrans), na Rua XV de Novembro, no centro da cidade, para resolver o problema.

Inicialmente a Prefeitura havia anunciado um cancelamento de 90 mil cartões, mas depois esclareceu que este é o balanço de bloqueios desde o início da operação contra as fraudes, em abril de 2016, ainda na gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT). A gestão do prefeito João Doria (PSDB) justificou a medida afirmando ter sido “surpreendida” por uma “enorme quantidade” de cartões com o problema. 

Por causa das filas, a partir desta sexta, a SPTrans prometeu ampliar o número de postos de atendimento em 20 guichês. O horário atual – das 8 horas às 17 horas – será expandido das 6 horas às 20 horas. O local é o único que atende à demanda de bilhete único, mas a empresa promete “descentralizar” o atendimento com novos postos para atender “quem foi vítima de golpe”. Também foi anunciada uma campanha de conscientização para evitar que a população compre passagem mais barata em postos não credenciados.

À Rádio Estadão, o secretário municipal de Transportes, Sérgio Avelleda, reconheceu o problema. “A SPTrans fez um bloqueio muito forte e ontem (quarta-feira) não teve capacidade de atendimento. Eu já publicamente pedi desculpas, esse não é nosso padrão de serviço, não é o nosso padrão de atendimento”, disse. Ele explica que há vários pontos de venda clandestinos comercializando bilhetes frios. “Bilhetes que as pessoas recebem, creditam em um cartão, mas o dinheiro não chega à SPTrans.”

De acordo com Avelleda, a fraude está causando um “desequilíbrio na conta do sistema dos transportes de ônibus”. “Vamos atuar muito duramente para impedir a ação desses fraudadores que estão sangrando o orçamento da Prefeitura.”

Erro

Para o pesquisador em mobilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Rafael Calabria, a SPTrans errou ao fazer os bloqueios sem aviso prévio. “Eles prejudicaram pessoas que não têm nada a ver com as fraudes. Deviam começar pela fiscalização de quem vende bilhete mais barato nas estações.” Segundo ele, o problema começou há uma semana e o Idec está fazendo uma pesquisa qualitativa sobre as pessoas afetadas, que deve ficar pronta na próxima semana. “Tem de tudo, de bilhete de estudante a vale-transporte.”

O vendedor Armódio Abdala, de 31 anos, morador de Osasco, na Grande São Paulo, foi pego de surpresa pelo bloqueio do cartão. “Estava indo trabalhar e não passou. Por sorte eu consegui usar o da minha mulher, senão estaria gastando dinheiro.” Ele era um dos que estavam na fila para resolver o problema, mas já prestes a desistir. “Fiquei uma hora na fila e não resolveram nada. E daqui ainda preciso ir para o Butantã (na zona oeste)”, reclamou.

A professora de educação infantil Maria Vieira, de 60 anos, estava na fila e afirmou que tem problema com o cartão há alguns dias. “Cheguei aqui e peguei a senha de número 203. Já estou há mais de meia hora na fila e não sai do 124. Vou precisar voltar outro dia.”

Já o estudante Diego Mendes, de 18 anos, diz que gastou R$ 50 desde que o cartão parou de funcionar, na última semana. “Disseram que eu não tinha CPF e foto registrados no cartão. Mas ainda não consegui resolver. Tive de pedir dinheiro para os meus pais.”

Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.
 

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