Em 30 anos, Mata Atlântica perde 12 vezes a área de São Paulo

Levantamento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Inpe aponta que perda da vegetação foi de 18.433 hectares no ano passado e ainda avança em Minas Gerais e no Paraná

GIOVANA GIRARDI – O ESTADO DE S. PAULO

Nos últimos 30 anos, a Mata Atlântica teve 1,887 milhão de hectares desmatados, o equivalente a 12,4 vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Apesar de a maior parte (78%) dessa perda de vegetação ter ocorrido entre 1985 e o ano 2000 – e de as taxas estarem em queda desde 2005 –, a supressão de floresta continua ocorrendo no bioma mais devastado do País.

É o que mostra a nova edição do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, divulgado nesta quarta-feira, 25, pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O documento, referente ao período de 2014 a 2015, traz uma análise consolidada da devastação ao longo de 30 anos de monitoramento.
 

O trabalho observou que no ano passado a Mata Atlântica perdeu 18.433 hectares, taxa 1% maior que a do período anterior, que foi de 18.267 ha. São valores menores que os registrados entre 2011 e 2013 – quando por dois anos consecutivos a taxa voltou a crescer depois de vários anos em queda –, mas ainda são maiores dos que os desmates ocorridos entre 2008 e 2011, as menores da história do monitoramento do bioma.

“Temos um lado positivo. Em 7 dos 17 Estados da Mata Atlântica, a taxa de perda está no nível de desmatamento zero, com menos de 1 km² – ou 100 hectares de desmatamento (1 ha é mais ou menos o tamanho de um estádio de futebol). É o caso de São Paulo e Rio de Janeiro”, afirma Marcia Hirota, diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica e responsável pelo trabalho.

Matopiba

Por outro lado, diz ela, alguns dos Estados que ainda apresentam as maiores áreas de remanescentes florestais estão entre os campeões de desmatamento. Minas Gerais, que tem a maior área de floresta (2,8 milhões de hectares), voltou a liderar o ranking, com perda no ano passado de 7.702 ha (37% a mais que os 5.608 do período 2013-2014). O Estado já havia sido campeão por cinco anos consecutivos, a partir de 2008, só perdendo a posição no ano passado para o Piauí.

O desmatamento no Estado nordestino caiu 48% no ano passado, em relação ao período anterior, mas ainda foi o terceiro maior do ranking, com perda de 2.926 ha. A Bahia, segunda colocada, teve perda de 3.997 ha (14% menor que a taxa anterior). Apesar das quedas, as duas áreas ainda estão sendo bastante ameaçadas, como mostram as altas taxas, explica Marcia. “Há nessa região um reflexo da pressão que está ocorrendo sobre o Cerrado de Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) pela expansão da agropecuária e vemos que isso acaba afetando a Mata Atlântica”, diz.

Evolução

A pesquisadora chama a atenção também para o Paraná, que registrou um aumento de 116% de corte no ano passado, chegando a 1.988 hectares. “Foram 1.777 hectares só na região de araucárias, um tipo de floresta que tinha sido super impactado no passado. O Paraná vinha reduzindo bastante o desmatamento. Ele foi o Estado campeão entre 85 e 90 e entre 95 e 2000. A partir daí tinha reduzido bastante, mas agora está voltando”, afirma.

Os quase 2 milhões perdidos nos últimos 30 anos são só a última etapa da história de uma devastação que começou junto com a descoberta do Brasil. Da área que originalmente era ocupada pelo bioma, hoje restam cerca de 12,5%, se considerados os fragmentos com mais de 3 ha. O desmatamento de 1985 para cá equivale a 1,44% do que havia no começo.

“A história do Brasil é a história da devastação da Mata Atlântica. Cada ciclo de desenvolvimento do País foi um ciclo de destruição da floresta. Hoje claro que a perda é muito menor, mas também porque quase não há mais Mata Atlântica, porque boa parte está na mão de privados, que preservam, e porque temos uma lei que proíbe seu corte, a não ser em caso de interesse público ou social. Mas ainda vemos cortes e precisamos começar a recuperar, a reflorestar ”, diz.

Márcia conta que o primeiro mapeamento, feito em 1990, trouxe uma luz sobre o que de fato era Mata Atlântica no Brasil. Na ocasião, com capacidade para enxergar com satélites apenas fragmentos com mais de 40 hectares, concluiu-se que havia somente 8,8% de remanescentes do País. A expectativa então era que aquilo era resultado das perdas históricas sofridas pelo bioma.

“Mas resolvemos olhar para os cinco anos anteriores e foi quando vimos que a devastação ainda era contemporânea, provocada principalmente para expansão de cidades, da agricultura e dos pólos industriais”, lembra. De 1985 a 1990 a perda foi de 536.490 hectares. O monitoramento foi feito nos cinco anos seguintes observou que mais 500.317 hectares tinham desaparecido. E ainda sumiriam outros 445.952 ha entre 1995 e 2000.

“A gente teve de brigar com muito madeireiro. A floresta era cortada na base do correntão para colocar eucalipto.Com o tempo isso foi diminuindo, hoje empresa de celulose é guardião, preserva Reserva Legal e Área de Preservação Permanente, proprietários de terra criam reservas do patrimônio particular. Ninguém mais devasta como era antes. Mas ainda enfrentamos problema como essa pressão perto do Cerrado e como esse no Paraná”, afirma.

Compromisso

Durante o Viva Mata, realizado na semana passada no Rio, secretários de meio ambiente dos 17 Estados da Mata Atlântica assinaram um compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2018.

Matéria publicada originalmente no jornal O Estado de S. Paulo.
 

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