Gestão Haddad ainda deixa aluno com deficiência sem transporte escolar

Prefeitura diz que 4% estão sem o seriço, e que atenderá demanda

MARIANA ZYLBERKAN, DO "AGORA"

Alunos deficientes da rede municipal de ensino da capital continuam sem transporte escolar gratuito, mesmo após a gestão de Fernando Haddad (PT) ter prometido resolver o problema.

Reportagem informou que esses alunos tiveram o direito cortado e já estavam havia quase um mês sem ir à escola. A Secretaria da Educação havia prometido uma solução em 15 dias. Já se passaram mais de 20 dias.

A situação ocorre porque, neste ano, a prefeitura quer acabar com os contratos temporários (emergenciais) de motoristas do TEG (Transporte Escolar Gratuito). Os profissionais reclamam que os valores pagos com os novos contratos são muito baixos – R$ 155,19 por criança transportada (ida e volta) e R$ 775,95 por criança com deficiência.

A dona de casa Elizabete Barros, 27 anos, diz que sua filha Tainá, 4 anos, deficiente visual, está sem ir à Emei José Mauro de Vasconcelos, em São Mateus (zona leste), porque não tem mais transporte. "Deixei meu emprego de manicure para poder levá-la e buscá-la, todos os dias, de ônibus", diz Elizabete.

SERVIÇO MALFEITO

Mesmo as mães que conseguiram o transporte escolar para seus filhos deficientes nos últimos dias reclamam que o serviço é malfeito. Na casa de Rose Rocha, 33 anos, o condutor só aparece três vezes por semana para levar seu filho Guilherme, 8 anos, que sofre de autismo, à Emef Cidade de Osaka, no Parque São Rafael (zona leste). "Ele fica em casa porque não tenho como levá-lo à escola", lamenta.

A corretora Marcia Mendes, 46 anos, reclama que seu filho Guilherme, 12 anos, que sofre de atraso motor e não consegue andar sozinho, perde uma hora de aula todos os dias porque a van só pode buscá-lo em casa meia hora mais tarde após o início das aulas e o traz de volta meia hora antes do término. "A escola faz muita diferença na vida dele, não pode ficar sem."

AVÓ CAMINHA MAIS DE 1 KM PARA LEVAR GAROTO

A dona de casa Lucidalva Alves Feliciano, 60 anos, anda 1,2 quilômetro todos os dias para levar o neto Carlos Eduardo, 10 anos, à escola. A mulher leva a neta Yasmin, 2 anos (parte do trecho, no colo), porque não tem com quem deixar a criança.

Ele sofre de autismo e bipolaridade e está sem o TEG (Transporte Escolar Gratuito) desde o início do ano letivo. "Tenho diabetes e pressão alta. Ele sai correndo e eu não consigo pegá-lo. Já aconteceu de um carro frear em cima dele", afirmou.

"Não posso apenas deixá-lo em casa. Ele fica muito agressivo, precisa da escola para distrair", diz. O menino frequenta a escola municipal de ensino fundamental Monteiro Lobato, em Pirituba (zona norte).

No ano passado, ela disse já ter tido problema para conseguir o transporte para o neto, mas, no fim, conseguiu resolver. Neste ano, porém, a situação voltou. A avó diz que não recebe explicações da escola sobre o corte.

Segundo o condutor José Ribeiro, 34 anos, que transportou Carlos Eduardo por quatro anos, o motivo é a diminuição do repasse feito pela prefeitura.

CRIANÇAS SEM DEFICIÊNCIA

Alunos da rede municipal de ensino que não têm deficiência também sofrem com a falta do TEG (Transporte Escolar Gratuito) desde o começo do ano letivo. ¦Os estudantes que têm até 12 anos e moram a mais de 2 km da escola têm direito ao transporte gratuito.

A dona de casa Carolina de Brito, 26 anos, tem dois filhos que estudam na mesma unidade, a escola de ensino fundamental Abrão de Moraes, em Artur Alvim, na zona leste, mas um tem o transporte e o outro, não. Por isso, a filha Jessica Nicole, 7 anos, está sem ir para a escola há mais de um mês. "Ela é a minha filha mais estudiosa, está sofrendo muito de estar sem as aulas."

A mãe diz que entra em contato com os condutores indicados pela escola mas não consegue encaixar a filha em nenhuma van. "Eu tenho um bebê, não posso levá-la para a escola." A dona de casa Jucilene dos Santos, 30 anos, mora a 8 km da escola onde a filha Giovana, 5 anos, estuda.

Em fevereiro, ela conseguiu encaixar a menina no itinerário de uma van, mas o condutor exigiu que ela levasse a menina até um ponto de encontro que fica a 1,5 km de onde moram, na avenida Jaceguava, em Parelheiros, na zona sul. "O ponto de ônibus mais perto fica a 3 km da minha casa. É impossível fazer esse trajeto com ela todos os dias.

FALTAM 400

A Secretaria Municipal da Educação de São Paulo afirmou que falta regularizar o transporte de 4,2% dos 9.804 alunos com deficiência da rede municipal. Dá 412 alunos. Em relação às crianças sem deficiência, a secretaria informou que 8,71% das 71.338 cadastradas ainda não recebem o TEG (Transporte Escolar Gratuito) normalmente –equivalente a 6.214 alunos. "A prefeitura reforça seu compromisso com os alunos e garante que todos com direito serão atendidas", disse a pasta, em nota.

Em relação aos casos citados na reportagem, a secretaria disse que um condutor foi contratado para atender Carlos Eduardo, neto da dona de casa Lucidalva Alves Feliciano, que mora em Pirituba, na zona norte.

Sobre o caso do filho de Rose Rocha, da escola Cidade de Osaka, no Parque São Rafael, na zona leste, a secretaria disse que ele recebe transporte nos dias em que integra o atendimento complementar na escola, duas vezes por semana.

A pasta disse que irá resolver os casos de Marcia Mendes, Elisabete Barros, Carolina de Brito e Jucilene dos Santos.

Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.
 

Compartilhe este artigo