Promessa de caixas-d’água para a periferia trava em São Paulo

Por Fabrício Lobel

Na pobre comunidade da zona norte de São Paulo que leva o nome de Vila Esperança da Caixa-d'Água, havia esperança e nada de caixas-d'água em meio à grave crise hídrica do ano passado.

Só agora os compartimentos para armazenar água prometidos pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) começaram a chegar à favela, onde as torneiras ficam secas todos os dias das 14h às 8h.

Há cinco meses, no auge da crise, o governo paulista anunciou que distribuiria caixas-d'água a moradores da periferia que, sem um reservatório em casa, sofrem mais as consequências do racionamento imposto pelo Estado por meio da técnica de redução de pressão na rede.

A ideia era entregar, até junho, 25 mil caixas-d'água, ao custo de R$ 125 cada uma.

Com menos pressão, a água é empurrada com menor força nos canos, o que, na prática, deixa com menos água as casas em locais altos e mais distantes das represas de SP.

Até agora, das 25 mil prometidas, só 20% das caixas-d'água foram entregues. O cronograma, antes previsto para ser concluído em junho, foi prorrogado até agosto.

No auge da crise, o governo tucano responsabilizou famílias sem caixa-d'água pelo desabastecimento que ocorre há meses em alguns pontos.

Com esses reservatórios abastecidos de madrugada, as famílias poderiam usar essa reserva nos períodos de falha no fornecimento.

Na Vila Esperança da Caixa-d'Água, na última quinta-feira (7), quem instalava sua nova caixa era Carlos Eduardo do Nascimento, 33, que estima ter investido R$ 300 em material de construção.

"Agora, eu vou conseguir tomar banho à noite. Antes, era só na caneca, ou debaixo do cano que capta da chuva."

Seu vizinho, o pedreiro Cosme dos Santos, 63, é o responsável da região pelo cadastro dos interessados nesses reservatórios. Ele alerta que a responsabilidade pela instalação é das famílias. "São poucas as caixas, então a gente prioriza as famílias mais pobres, mas que têm espaço ou laje para colocar a caixa-d'água."

O mesmo cuidado parece não ter ocorrido na Vila Régis, na zona sul. Por lá, alguns moradores estão há dois meses com suas caixas encostadas, sem instalá-las.

"O problema é o custo. Fora isso, nem todos têm espaço em casa para colocá-las", diz Lucineuza Boaventura, 50.

Assim, alguns desses compartimentos estão no chão e servem como cisternas. "Eu uso essa água para dar descarga ou fazer o jantar", conta Maria Elizabete, 59.

Ela diz se preocupar em sempre lavar o reservatório com sabão e cloro, além de tampá-lo, para evitar o mosquito transmissor da dengue.

Outras caixas ainda estão encostadas e vazias. É o que ocorre na casa de Cirlene da Silva, que, sem os R$ 1.000 para a instalação, há dois meses tem uma vazia no quintal.

"A gente pegou, mas não é para servir de enfeite, né?", afirma, ao apontar para o recipiente suspenso por cordas no quintal de casa.

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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