Amazônia: árvore de lá garante água aqui

Por Mariana Missiaggia

São Paulo já não é mais a terra da garoa. A capital paulista é um exemplo do impacto das mudanças climáticas enfrentadas pelo mundo inteiro.

O aumento da temperatura faz com que a chuva se torne cada vez mais instável na cidade. E, apesar da distância de quase quatro mil quilômetros, a estiagem em São Paulo tem uma forte relação com o desmatamento da Amazônia.

Parece até conta de matemática. Quanto mais árvores são derrubadas na Floresta Amazônica, mais os reservatórios de água das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil ficam vazios.

A Amazônia é responsável por bombear a umidade para a atmosfera que vai se transformar em chuva nessas regiões e sua principal importância está na circulação da atmosfera terrestre, totalmente dependente da floresta.

“Quanto menor a presença de árvores, menos umidade e, portanto, menos chuva e mais torneiras secas. A imensa cobertura vegetal, conjugada ao seu oceano de água doce influencia diretamente na atmosfera. Caso não houvesse esses dois itens aliados, o quadro seria trágico”, explica o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Philip Fearnside.

O cenário dramático citado pelo pesquisador vem sendo desenhado pela agricultura e pelos pastos, que nos últimos anos estão substituindo as florestas. As árvores da Floresta Amazônica original estão fincadas a até 30 metros de profundidade e seus troncos e raízes funcionam como tubos que sugam a água da terra.

Pela transpiração, as folhas se encarregam de espalhar a umidade na atmosfera. Estima-se que, diariamente, cada árvore amazônica bombeie, em média, 500 litros de água, o que torna a Amazônia inteira responsável por levar 20 bilhões de toneladas de água por dia do solo até a atmosfera.

Deserto – Sem a floresta, restaria para o continente um clima quente e seco, distribuído por matas áridas pela falta de chuvas. Nesse cenário, grande parte do Brasil e da América Latina teria um clima extremo e inóspito.

Por esse motivo, as imensas massas de vapor d'água – proveniente da evapotranspiração da floresta – que transportam umidade da bacia Amazônica para outras regiões do Brasil são chamadas de "rios voadores." De lá, eles são impulsionados em direção ao oeste e encontram uma barreira natural formada pela Cordilheira dos Andes.

Esses rios voadores, ainda transportando vapor de água, são barrados por um paredão de quatro mil metros de altura e automaticamente fazem a curva e partem em direção ao sul, rumo às regiões do Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil e aos países vizinhos, onde se transformam em chuva.

Pesquisador dessa relação entre a água de São Paulo e a floresta Amazônica, Fearnside acredita que, para prevenir futuras crises hídricas e de energia, moradores de São Paulo e do Rio de Janeiro deveriam se posicionar fortemente contra o desmatamento da Amazônia.

“Já passamos por apagões e racionamentos, mas a população e os exploradores ainda não se conscientizaram sobre a importância da água transportada por correntes de ar da Amazônia para o Centro-Sul do Brasil”, disse o pesquisador.

Hoje, a devastação humana torna o futuro climático uma incógnita. Mesmo considerado crime ambiental, o desmatamento já destruiu 20% das árvores da Floresta Amazônica original, nas últimas décadas.

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Matéria originalmente publicada no jornal Diário do Comércio

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