Roubos esclarecidos caem 42% em 10 anos

Queda no número de casos 'resolvidos' pela polícia em São Paulo ocorre ao mesmo tempo em que crimes aumentaram; Na capital paulista, apenas 2,5% das queixas de assalto registradas em 2013 foram solucionadas.

Por Marina Gama Cubas

A quantidade de casos de roubo no Estado de São Paulo considerada esclarecida pela polícia caiu 42% em dez anos: de 22,5 mil, em 2004, para 13,1 mil, em 2013.

Os dados foram obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação.

A tendência de queda ocorre ao mesmo tempo em que esses crimes aumentaram.

Os casos esclarecidos não significam obrigatoriamente que os criminosos foram presos. Quando um autor do roubo é identificado, mesmo que esteja foragido, esse crime já é contado como solucionado.

Em 2004, quando foram registrados 220,3 mil assaltos no Estado, a polícia contabilizou ter esclarecido 22,5 mil –10,2% do total, incluindo casos de autoria conhecida e flagrantes da Polícia Militar.

Em 2013, de 257 mil roubos, o equivalente a 5,1% dos casos foram resolvidos.

Na capital paulista, a diminuição foi ainda maior –passando de 11,7 mil para 3,2 mil assaltos esclarecidos, equivalente a apenas 2,5% do total de casos do ano passado.

Questionada pela Folha por três semanas, a Secretaria da Segurança Pública não comentou os fatores que podem explicar os resultados ao longo dos dez anos.

A pasta se limitou a dizer que, em abril de 2013, houve uma mudança metodológica –negada por dois funcionários do DAP (Departamento de Administração e Planejamento), órgão da Polícia Civil que faz a análise de dados.

O problema é que, em 2012, já no atual mandato de Geraldo Alckmin (PSDB), os índices de esclarecimento de roubos eram tão baixos quanto os do ano seguinte: apenas 13,1 mil tinham sido resolvidos, 5,5% do total de assaltos.

Ou seja, mesmo que tenha havido alguma mudança de critérios em 2013, não explicaria a tendência verificada.

Especialistas dizem que a queda de esclarecimentos é um dos fatores que contribuem com a disparada desses crimes, que aumentaram por 12 meses consecutivos e bateram recorde em maio.

"A polícia melhorou muito a investigação de homicídios até 2007 e 2008, mas não a de roubos. Isso ajuda a explicar porque os homicídios caíram e os roubos não", diz Luis Flávio Sapori, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

"O roubo é um tipo de crime que depende muito da polícia, não só para fazer policiamento ostensivo, mas para identificar os poucos assaltantes que estão cometendo os muitos assaltos", afirma.

"É um circulo vicioso. Se ocorre uma diminuição no esclarecimento, os criminosos vão continuar cometendo porque contam com a impunidade", diz Luís Antônio Francisco de Souza, coordenador do Observatório de Segurança Pública da Unesp.

O efetivo da Polícia Civil caiu de 32.809 para 29.517 em dez anos. Em junho, a Folha revelou que, de cada dez boletins de ocorrência de roubo, a polícia abre apenas um inquérito policial.

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

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