“No País, 28 milhões convivem com usuários de drogas” – O Estado de S.Paulo

Estudo realizado pela Unifesp mostra também que 58% das famílias pagam do próprio bolso pelo tratamento dos pacientes.
Por Lígia Formenti, de Brasília
 
No Brasil, 28 milhões de pessoas convivem com um dependente químico, revela pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo. O estudo mostra também que mais da metade dos tratamentos ofertados para dependentes de drogas é financiada pelos próprios familiares.
 
O trabalho entrevistou 3.142 famílias de todo o País que tinham entre seus integrantes usuários em tratamento. Deste grupo, 58% pagavam do próprio bolso a internação dos pacientes. Os resultados são divulgados dois anos após o lançamento do programa federal Crack, é possível Vencer, que se compromete, entre outras metas, justamente a garantir assistência para dependentes de drogas.
 
O trabalho revelou também que o impacto da terapia afetou de forma drástica ou fortemente quase metade dos entrevistados (45% deles). "Com o estudo, quisemos dar voz a essas famílias, que também sofrem com essa doença crônica, mas estão esquecidas, sobretudo pelos serviços públicos", afirmou o coordenador do trabalho, o psiquiatra da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas, Ronaldo Laranjeira.
 
Dos familiares entrevistados, 50% não sabem o que são os Centros de Atendimento Psicossocial de Álcool e Drogas (CAPs), unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimento de dependentes químicos. E dos que conhecem, 46% nunca haviam procurado um CAPs.
 
"Os relatos impressionam: às vezes, familiares recorrem aos serviços, dizendo que o dependente está em casa descontrolado, ameaçando todos. A resposta que ouvem é que não há nada a ser feito, enquanto o usuário não comparecer, por conta própria, ao serviço de atendimento", relata Laranjeira. Ele avalia que o mínimo que poderia ser feito é um serviço de aconselhamento para familiares, mesmo que por telefone. "Atualmente, o serviço se limita a dar endereços sobre postos de atendimento. Isso não resolve."
 
Dos entrevistados, 58% disseram que os problemas enfrentados com familiares usuários de drogas afetaram o trabalho ou estudos. A maioria (80%) dos entrevistados era do sexo feminino, e 46,5% eram mães de usuários de drogas.
 
Serviço
 
O secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Miranda, afirmou que, na próxima reunião da Secretaria Nacional de Álcool e Drogas (Senad), a equipe vai propor uma revisão no atendimento por telefone. "Esse é um canal importante de aconselhamento para famílias, para dependentes. Ele deve ser melhor explorado", afirmou. Está em curso também um trabalho para difundir os CAPs e os serviços de emergência.
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