Celular é arma para monitorar Prefeitura

Aplicativo do MIT, em parceria com a Rede Nossa São Paulo, possibilita ‘monitoramento cívico’ das metas da gestão Haddad.

Por Giovana Girardi

Um celular na mão e promessas de campanha na cabeça. É o que basta para a população se engajar em um monitoramento das ações do poder público e ter real conhecimento de causa para cobrar o que eventualmente não estiver sendo cumprido.

Essa é a proposta de uma ferramenta criada por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em parceria com a Rede Nossa São Paulo, e que estreia nesta terça-feira. Criado por uma equipe do Centro de Mídia Cívica do MIT, o Promise Tracker (rastreador de promessas) é uma das bases da plataforma digital De Olhos Nas Metas e se baseia no conceito de monitoramento cívico.

A ideia é que qualquer pessoa com um smartphone com o aplicativo do projeto (inicialmente disponível para Android) possa vistoriar locais onde uma meta deveria estar sendo executada e registrar, por meio de fotos georreferenciadas, o status daquela promessa. Esses dados serão encaminhados para as subprefeituras e para a Prefeitura para cobrar soluções.

“O monitoramento cívico é uma ferramenta poderosa para mostrar quais são as questões de interesse público e embasar as preocupações em dados. É fácil para as pessoas reclamarem de algo – e simples para governos ignorarem uma reclamação -, mas podemos levar essas queixas a sério quando elas vêm de dezenas de pessoas e estão embasadas em mapas ricos em dados”, afirma Ethan Zuckerman, diretor do Centro de Mídia Cívica e responsável pelo projeto.

No decorrer e no fim da gestão, os dados levantados poderão servir de contraponto para as informações apresentadas pela Prefeitura no site Planeja Sampa. “O site oficial lista as metas, a porcentagem de progresso e quanto dinheiro foi gasto. O De Olho Nas Metas vai deixar essas informações mais acessíveis aos moradores da cidade. Será possível verificar se aquilo (informações do site oficial) está correto”, diz Emilie Reiser, pesquisadora do Centro de Mídia Cívica que está implementando o projeto em São Paulo.

Segundo Maurício Broinizi, coordenador executivo da Rede Nossa São Paulo, a ferramenta poderá ajudar a tomar decisões mais rapidamente. “Uma coisa é a Prefeitura ter informes frios sobre como está andando uma meta, outra coisa é a população interagir com fotos e relatos de uma obra ou ação que deveria estar sendo executada. Permite não só o controle da população como pode agilizar a ação da Prefeitura”, afirma.

Na prática. Desde 2014, a ferramenta vem sendo apresentada em workshops em São Paulo. Foi testada com metas reais no Butantã (zona oeste) e em Cidade Ademar (zona sul). Nesse segundo local os dados eram consistentes, diz o conselheiro Airton Goes, técnico da Nossa São Paulo. “Mas havia uma previsão de valores e não estava claro como o dinheiro estava sendo gasto.” 

A partir do lançamento oficial serão organizados cinco grandes workshops, um para cada macrorregião de São Paulo. Na semana que passou foram realizados cursos em São Luís (MA), Betim e Belo Horizonte (MG), também interessados em aplicar a ferramenta.

3 PERGUNTAS PARA…

Ethan Zuckerman, diretor do Centro de Mídia Cívica do MIT

1. Qual é a importância do monitoramento cívico?
É uma maneira de fiscalizar os governos. Normalmente, pensamos em eleições como ferramentas para a prestação de contas, mas tirar um político do cargo pelo voto leva muito tempo. Se um governo faz uma coisa ruim entre tantas boas, dá para exigir mudança para aquela questão.

2. Há outros exemplos em que o monitoramento mudou uma situação ruim? 
O monitoramento cívico no sentido de agrupar cidadãos, com tecnologia, e monitorar instituições poderosas é novidade. Mas num sentido mais amplo ocorre há bastante tempo nos espaços offline.

3. Por que vocês escolheram São Paulo?
O País tem um longo registro como espaço para experimentação democrática. Desde o fim do governo militar, o Brasil está na dianteira de inovações em governança. Viemos a São Paulo porque ficamos profundamente impressionados com a vontade do prefeito Haddad de publicar uma lista concreta de metas.

Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo

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