Para especialista, não podemos “olhar para políticas públicas de Esporte sem olhar para a desigualdade social”

Os resultados da pesquisa “Viver em São Paulo: Esporte” foram apresentados em evento realizado no Sesc Vila Mariana, nesta quarta-feira (25). O encontro contou com um debate com a participação de Sílvia Gonçalves, coordenadora de Advocacy da ONG Atletas pelo Brasil, e José Guilherme Cantor Magnani, professor do Departamento de Antropologia da USP, com mediação de Ricardo de Oliveira Silva, gerente adjunto de Desenvolvimento Físico Esportivo do Sesc São Paulo.

Durante a mesa, Sílvia chamou a atenção para a falta de pesquisas regulares sobre esporte no Brasil e José Guilherme para a importância de uma “complementariedade” de estudos quantitativos e qualitativos, para que seja possível análises com “mais consistência” e para a contribuição de elaboração de políticas públicas.

Sílvia tratou também da não “pacificação dos conceitos de esporte e de atividade física”. “Quando você fala de atividade física exclusivamente para a saúde, você não está falando da atividade física como parte do desenvolvimento humano”, analisou. Para ela, a prática de atividades físicas e esportivas são um direito e “tem a ver com o direito de escolha, não com um dever”.

Nessa perspectiva, a especialista questionou, também, o conceito de sedentarismo comumente utilizado. Assim como José Guilherme, que destacou: “muitas vezes o trabalho é o exercício físico, o sedentarismo é a hora do descanso”.

Outro ponto destacado foi a não prática de esportes e atividades físicas por falta de tempo revelado na pesquisa. Segundo o levantamento, 39% das pessoas que não praticam ou não praticaram esporte ou atividade física nos últimos 12 meses afirma que falta de tempo é o principal motivo. Sílvia entende que a falta de tempo “está ligada à desigualdade social”. “Não tem tempo porque não tem com quem deixar os filhos, porque demora duas horas para voltar do trabalho, porque precisa cozinhar”, exemplifica. Assim, a especialista enfatiza que “não dá para a gente olhar para uma política pública de esporte e olhar para as características desse abandono sem olhar para desigualdade social”.

Considerando os conceitos de “praticante regular”, “praticante esporádico” e “sedentário” utilizados na pesquisa, que tem como referência as definições da Organização Mundial da Saúde (OMS), o estudo do extinto Ministério do Esporte nomeado Diagnóstico do Esporte (Diesporte – 2013) e a PNAD 2015 que versa sobre atividades físicas, destaca-se o perfil das pessoas sedentárias: mulheres (62%); classe C (61%); pessoas autodeclaradas pretas e pardas (51%); com renda familiar até 2 salários mínimos (50%); Ensino Fundamental (39%); 55 anos e mais (36%); pessoas que moram na região Leste (34%).

O papel das escolas na prática ou não de atividades físicas e esportivas tomou grande parte do debate. A pesquisa indica que, entre as pessoas que têm filhas(os) ou moram com crianças que estudam em escola pública (69%),  58% declaram que a escola pública oferece algum tipo de atividade física ou aula de educação física; e 11% declaram que a escola pública não oferece nenhum tipo de atividade física ou aula de atividade física.

Enquanto entre as pessoas que têm filhas(os) ou moram com crianças que estudam em escola privada (30%), 24% dizem que a escola privada oferece algum tipo de atividade física ou aula de educação física; e 6% declaram que a escola privada não oferece nenhum tipo de atividade física ou aula de educação física.

“A quebra do ciclo da inatividade física está nas crianças e jovens. Precisamos olhar para isso e para as escolas”, enfatizou Sílvia. Além disso, “a educação física na escola tem que ser prazerosa e ter viés educacional”, completou.

Confira a apresentação da pesquisa

Confira a pesquisa completa

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