10 lições de Nova York para melhorar a vida de quem anda a pé em São Paulo

Nos últimos anos, Nova York tem sido uma boa fonte de inspiração para outras grandes cidades do mundo. A cidade aumentou a área de Espaços Públicos, tem soluções criativas e simples para quem anda pela cidade, e adotou uma meta, a Vision Zero: zerar as mortes no trânsito até 2024.

Andar por Manhattan está mais seguro e prazeroso. Muitos brasileiros que aqui dependem do carro para tudo chegam lá e ficam deslumbrados com a ideia de andar a pé quilômetros e quilômetros.

Em 2012, uma equipe da CET esteve lá estudando essas soluções de “mobilidade a pé” e fez um relato da viagem – “Visita técnica a Nova Iorque para analisar a prioridade ao pedestre”. O relatório é muito interessante porque permite comparar no tempo a distância entre a inspiração e a execução. Vejamos o que chamou a atenção de nossos técnicos e como as ideias estão (ou não) sendo implementadas aqui.

1. Os pedestres de lá esperam menos no sinal

Os técnicos da CET mediram e conversaram com seus congêneres do departamento de trânsito local, o DOT. Lá a espera média de um pedestre é de 25 segundos e o máximo chega a 50 segundos. Em São Paulo, chegamos a esperar 130 segundos, ou seja, inacreditáveis dois minutos parados esperando pelo homenzinho verde se lembrar de aparecer.

2. Na travessia, os pedestres são mais visíveis

Uma das ações que estão ajudando a travessia é o chamado neckdown, em que as calçadas ficam mais próximas perto do cruzamento. Outra solução é o avanço da calçada.

No relatório, os técnicos da CET elogiam a solução: “O estreitamento alerta os motoristas da presença de pedestres; estimula os motoristas a reduzirem a velocidade na conversão, melhora a segurança do pedestre tanto pela diminuição da  distância de travessia; como pelas baias de estacionamento.” Esse modelo de travessia poderia ser uma solução barata para tornar mais seguros vários cruzamentos de São Paulo, sem nenhum prejuízo para o trãnsito.

3. As calçadas de lá são mais bem conservadas que as calçadas de cá

A responsabilidade pelas calçadas de São Paulo é do proprietário do imóvel em frente. Diante da falência desse modelo, muitas áreas na cidade, em Operações Urbanas ou lugares de alta densidade de pedestres, já têm uma gestão da prefeitura, que procura uniformizar os trajetos e evitar os obstáculos comuns, como degraus. A comparação com Nova York mostra que nosso modelo está longe de funcionar.

4. Os motoristas de lá respeitam mais o pedestre

A gente está tão acostumado a ver os motoristas fazendo conversão sem sequer olhar para os pedestres que até se espanta com os motoristas americanos. Os técnicos também se espantaram e comentaram:

“O respeito à regra de que o movimento de conversão deve dar vez para o pedestre atravessar, inclusive num cruzamento semaforizado, é tão corriqueiro nos Estados Unidos que os pedestres atravessam sem sequer olhar para os veículos “conflitantes”.  Como o pedestre sabe que a preferência é dele, ele sequer aperta o passo para que o veículo espere menos – “o motorista aguarda calmamente, entendendo que aquele é o procedimento normal.”

Mesmo assim, 39 mil novaiorquinos foram multados em 2015 por não dar preferência ao pedestre, mais do que o dobro de dois anos atrás.

5. A redução de velocidade na cidade já existe há tempos, e quem não cumpre é multado

Em Nova York, a velocidade máxima “padrão” em 2012 já tinha sido baixada par 48 km/hora (30 milhas/hora). O prefeito atual, Bill de Blasio reduziu ainda mais, para 40 km/hora (25 milhas/hora). Em lugares especiais, há restrições bem sinalizadas. A simplicidade ajuda o entendimento. As multas também ajudam o entendimento e são bem salgadas. Em 2015, foram 132 mil multas por excesso de velocidade, um crescimento de quase 60% contra 2013. Mesmo assim, morreram 133 pedestres em 2015. E em São Paulo? 419…

6. As motocicletas não andam em zigue zague pelo trânsito

Em São Paulo, pedestres e motociclistas são os que mais morrem no trânsito. E os motociclistas também se envolvem muito em atropelamentos e acidentes. Em Nova York, os técnicos da CET destacaram o pequeno número de motocicletas na cidade. E ressaltam: “as motocicletas são obrigadas a trafegar dentro da faixa de rolamento, atrás dos automóveis e nunca no corredor entre eles, como é permitido no Brasil.”

7. Na cidade que tem um dos melhores metrôs do mundo, os ônibus também têm faixa exclusiva e são acessíveis

Sim, elas também existem por lá. E também dão multas a quem entra na faixa.

Ah, uma invenção excelente: impedir motoristas de ônibus de deixarem o motor ligado! Não sei se vocês também têm esse tipo de implicância, mas é muito comum a gente ver os ônibus de frota ligados, esperando por um longo tempo o momento de sair, enquanto despejam barulho e fumaça nos pedestres. Em Nova York, alguém decidiu que isso seria passível de multa. Sim, 2 mil dólares

8. As faixas de bicicletas têm vários formatos, estão crescendo e cada vez mais bem sinalizadas

As faixas de bicicleta são uma das prioridades na cidade e apresentam várias soluções, desde as mais simples até as mais sofisticadas. De um modo geral, as ruas de Nova York são muito mais largas que as nossas, o que poderia levar à conclusão de que há mais espaço para tirar dos carros e dar para as bicicletas. Mas o fato é que em várias ruas, o que sobra para o carro é apenas uma faixa de rolamento. Parece estar funcionando, pois a taxa de gente andando de bicicleta na cidade aumentou e os acidentes diminuíram. E é muito melhor para a cidade ter uma bicicleta do que um carro rodando

9. Cada vez mais espaços públicos estão proibidos para carros

Muita gente já conhece a nova Times Square, mas há vários outros lugares, esquinas, largos que estão cedendo espaço para os pedestres. Onde havia carros, há cadeiras, bancos, até guarda-sóis. Onde havia ruas, banquinhos para apreciar o que a cidade tem de melhor: as pessoas.

10. Os conflitos continuam existindo. Mas estão sendo enfrentados

Mesmo numa cidade que tem uma visão clara de redução das mortes, há conflitos e opiniões contrárias. O prefeito atual enfrentou protestos de motoristas de ônibus punidos por se envolverem em acidentes. Há pessoas que gostariam que os carros voltassem a ocupar alguns espaços fechados. Há os protestos contra as multas. Não é diferente daqui. Mas o que parece ser diferente é o fato de existir uma visão muito clara, uma comunicação muito clara e uma execução muito boa. Nada que não possamos ou devamos usar para nos inspirar.

Matéria publicada no portal São Paulo.

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