Escolas municipais da zona norte de São Paulo ficam sem merenda

STEPHANE SENA, DO "AGORA"

A gestão Fernando Haddad (PT) deixou alunos de 103 escolas públicas municipais sem merenda na quarta-feira (6). As unidades são todas da região do Jaçanã/ Tremembé (zona norte). Sem comida, alguns colégios suspenderam as aulas e outros dispensaram os estudantes mais cedo. Há ainda o caso de uma unidade que vai usar verba da APM (Associação de Pais e Mestres) para comprar alimento.

O problema vai continuar nesta quinta-feira (7). A Prefeitura de São Paulo não informou quantas crianças foram prejudicadas.

Na Emei (Escola Municipal de Ensino Infantil) Eudoxia de Barros, que atende crianças da pré-escola, os pais ficaram sabendo que não haveria aula ontem cedo. "Cheguei às 7h e os funcionários disseram que não ia ter aula porque estavam sem merenda e não havia previsão de entrega", disse o taxista Fernando Pereira Mendes, 30 anos, pai de uma aluna de cinco anos.

Já na Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Professora Esmeralda Salles Pereira Ramos, onde estuda o enteado do taxista, os alunos passaram o dia sem merenda. "A sorte é que ele tinha lanche na mochila, se não tivesse passaria fome. Só na hora da saída é que informaram que até sexta-feira as crianças devem levar um lanche porque não há merenda na escola", disse.

Cada escola está lidando com a falta de comida de um jeito diferente. Sem se identificar, a reportagem ligou para a escola Professor Adolpho Otto de Laet e a secretaria informou que as aulas acontecerão normalmente hoje porque a direção usará a verba da APM para comprar comida. Nas unidades onde o horário de aula foi mantido, a recomendação é que os alunos levem lanche de casa.

Na Emef Jardim Fontális, os alunos estão sendo dispensados mais cedo. Um aviso no portão afirma que o motivo é a falta de merenda. Uma funcionária da unidade disse que a prefeitura não deu orientação para a escola. Segundo ela, a direção acreditava que a comida chegaria ainda na manhã de ontem.

"As crianças entram às 13h e saem às 18h20. Na entrada ficamos sabendo que elas sairiam às 16h30. É uma vergonha não ter comida para elas. Algumas vêm para a escola sem almoçar", disse a dona de casa Lindoya dos Santos, 39 anos, mãe de dois alunos.

A doméstica Gilvana Nascimento, 38 anos, tem duas filhas matriculadas em escolas municipais da região do Tremembé, a Emef Jardim Fontális e a Emef Margareth de Fátima Marques de Azevedo. Em nenhuma delas havia merenda ontem.

"Na terça-feira (5), o dia foi normal. As crianças comeram e eu nem fazia ideia de que isso aconteceria hoje. De manhã, quando fui levar a mais nova para a escola, vi o comunicado de que ela sairia mais cedo porque não tinha merenda. Com o mais velho, da Emef, foi a mesma coisa. Tive que mudar minha rotina para buscá-los na escola mais cedo", disse Gilvana.

Alunas no 8º ano da Jardim Fontális, que estudam na unidade no turno da manhã, disseram que a merenda foi o assunto do dia. "Muitos passaram fome porque não tomaram café da manhã em casa. Não estávamos sabendo que não tinha merenda", disse uma estudante de 13 anos.

PLANO EMERGENCIAL

Salomão Ximenes, especialista em educação e assessor da ONG Ação Educativa, diz que a prefeitura deveria ter um plano de contingência para evitar a falta de merenda. "Não dá para justificar que foi algo inesperado e que a rede é muito grande. Faltou planejamento", diz.

Segundo ele, falta mais transparência do poder público. "A prefeitura deveria fazer uma comunicação transparente com a população e explicar com detalhes o motivo da rescisão do contrato." Para ele, não é a empresa terceirizada que deve dar satisfações. "É a Secretaria da Educação, que também deve ter uma plano para repor as aulas que serão perdidas nesse período."

OUTRO LADO

A Secretaria Municipal de Educação afirmou em nota que a empresa que fornece os alimentos da merenda das escolas do Jaçanã e do Tremembé, a Prol Alimentação Ltda., rompeu o contrato com a pasta na última sexta-feira unilateralmente. De acordo com a pasta, a empresa não apresentou certidões de quitação de impostos ficando "impossibilitada de receber as faturas emitidas pela Secretaria Municipal de Educação".

"A Prol será multada em 20% pelos descumprimentos de suas obrigações contratuais", disse. A empresa não foi localizada pela reportagem.

Segundo a secretaria, haverá aula normal hoje e amanhã nas 103 escolas. A pasta não respondeu quantos alunos foram afetados e o motivo de não ter resolvido o problema antes. Afirmou que o abastecimento será normalizado na segunda-feira, quando passará a valer a contratação emergencial de uma nova fornecedora de alimentos.

Matéria publicada originalmente na Folha de S. Paulo.
 

Compartilhe este artigo