Direito à cidade: uma cidade para crianças e adolescentes

Por Daniela Ramos Pereira, da Revista Viração

Estamos em pleno século XXI e cada vez mais tem se falado em direitos humanos e sobre como garanti-los é um passo fundamental para vivermos num mundo melhor. Mas, como sabemos, ainda há um longo caminho pela frente. Falaremos aqui de um direito humano que é diversas vezes negligenciado e nós nem nos damos conta: o direito à cidade.

O direito coletivo de experimentar, circular, mudar a cidade; de transformar seus processos e de se apropriar da cidade, deve ser garantido a todos, inclusive a nós: crianças e adolescentes.

E como a vida na cidade tem contribuído para o bem estar das pessoas? A partir de nossos olhares e vivências, notamos que algumas lógicas estabelecidas em São Paulo, em vez de possibilitar encontros, afetos, aprendizados, têm causado sofrimento e distanciamento.

Constroem-se farmácias, muros e multiplicam-se o valor dos aluguéis, com preços impossíveis de serem pagos por pessoas mais pobres. O privado tem sido primordial. E melhorias na infraestrutura, implantação de moradias do programa Minha Casa, Minha Vida, e até investimento em transporte, acarretaram na valorização imobiliária. Tudo tem se valorizado, mas a “valorização” excluí aqueles que não podem pagar por ela. Com grande aumento no aluguel e no custo de vida, os trabalhadores são obrigadas a se concentrarem nas margens.  Longe, bem longe das melhorias que fariam a vida na cidade ser possível. Esse é o retrato da desigualdade e da lógica perversa da especulação, da falsa valorização, da exploração.

Cria-se margens dentro das margens. Está sendo criada uma segregação onde antes era tudo o mesmo do mesmo. Falta sim infraestrutura, falta sim urbanização, falta qualidade de vida. As crianças hoje brincam à margem na margem do rio. Isso quando brincam. Não existe lugar pra crescer nos bairros das periferias. Isso porque ainda não citamos os adolescentes que são totalmente esquecidos: Rolezinhos são proibidos, porque escandalizam e escancaram a demanda por espaço, por lazer, por encontros. O jovem precisa ter vez. Não queremos bairros e uma cidade triste e cinza. Os meninos estão crescendo sem brincar; os idosos estão passando o resto de seus dias numa melancolia sem fim. Os jovens? Bom, os jovens estão sedentos da cidade.

Muros estão sendo construídos para não se ter acesso à rua, aos parques, às calçadas. Queremos menos muros, mais ciclovias, mais praças e mais eventos ao ar livre, gratuitos, mais transporte, menos violência, menos vigilância, mais amor. As pessoas só estão presentes no ponto de ônibus pra ir trabalhar. Falta descentralização das oportunidades culturais da cidade, espaços de convivência, áreas verdes, espaço de lazer para todos. Queremos ver adolescentes por toda parte, sendo felizes, nas pistas de skate, nas praças, nas festas, nas audiências, nos conselhos, nas vilas, na cidade, enfim. Nenhuma especulação pode impedir que as pessoas ocupem o lugar que é delas por direito.

 

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